A inflação oficial do país, apontada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), cujo levantamento compete ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi divulgado na sexta-feira (10) e mostra que o indicador ultrapassou a casa dos dois dígitos no acumulado dos últimos 12 meses.

No ano, o IPCA acumula alta de 9,26% e, nos últimos 12 meses, de 10,74%.Mas este não é um fenômeno unicamente brasileiro.

A inflação nos EUA também atinge maior acumulado em 12 meses desde 1982, alcançando os 6,8%. Na Europa a tendência é a mesma e os indicadores da Alemanha, maior economia da União Europeia, apontam índice mais elevado dos últimos 30 anos.

Estas elevações generalizadas nos índices de inflação encontram explicação na necessidade de tiveram os países do mundo em utilizar de políticas que reativassem suas economias. Mas é claro, um dia a conta chega.... Chegou!!

A derrocada na economia ...

A necessidade de medidas sanitárias em decorrência da COVID-19, afetou todos os setores da produção mundial com consequente perda de renda e elevação do desemprego derrubando a demanda e o PIB dos países, de forma heterogênea, mas disseminada.

... exigia intervenção vigorosa ...

Para reanimar a economia era preciso que as pessoas e empresas voltassem a gastar e os governos passaram a adotar políticas monetárias expansionistas.

... com frouxidão monetária ...

Por Política Monetária Expansionista, entenda-se expandir a quantidade de moeda em circulação no país. Os Bancos Centrais não controlam a quantidade de moeda em circulação, mas controlam o ânimo das pessoas que tem dinheiro, para utilizá-lo em compras ou em aplicações.

... por meio da redução nos juros ...

O Banco Central administra este ânimo, utilizando a taxa básica de juros. Se os juros estão altos, quem tem dinheiro prefere ganhar estes juros aplicando-o no Tesouro Direto, por exemplo. Se os juros estão baixos, perde-se o impulso por aplicar e a preferência é por gastá-lo já que o retorno em aplicações é pequeno.

... e auxílio aos mais pobres.

Medidas voltadas a transferência de renda para as famílias mais vulneráveis também elevou a demanda por bens e serviços, atuando para retornar as economias nos eixos.

A consequência inevitável ...

Acontece que, com esta enxurrada de dinheiro em circulação, aumentando a demanda, a consequência natural é haver um descompasso entre o quanto as pessoas e empresas tem para gastar e a quantidade de bens e serviços que estão à venda.

... é a volta da inflação.

Mais dinheiro que bens e serviços, leva os agentes a disputarem os produtos via preço, como em um leilão. A elevação generalizada dos preços caracteriza um processo inflacionário.

Agora é tempo de retornar ...

Para contê-la, o processo é inverso. Agora cabe aos Bancos Centrais aumentarem as taxas de juros, para refrear o impulso por gastar e aumentar o desejo por aplicar o dinheiro para aproveitar os ganhos. Por óbvio que tal atuação também inibe o crescimento.

... para pagar a conta ...

As autoridades monetárias ao redor do mundo estão fazendo o que se espera deles. E o que conseguem fazer é diluir no tempo o período de mazelas econômicas provocadas pela pandemia.

... em prestações não tão suaves.

Em vez do mal vir em uma única tacada, com potencial de deixar muitos pelo caminho, a ideia é diluir ao longo de um período maior este mal, de maneira a permitir que todos sobrevivam a ele. Essa conta pode demorar para ser paga.

Não há almoço de graça.

Entendo como acertadas as medidas tomadas pelo Brasil e outros países no sentido de minimizar os problemas econômicos, reflexo da pandemia. ERRADO é dissociar o momento atual das ações tomadas no passado recente.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.