Diferença populacional de Londrina e Maringá não é por migração
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 31 de julho de 2023
Marcos Rambalducci
Os dados do Censo 2022 trouxeram, para a maioria de nós, algumas surpresas em relação ao crescimento populacional do país, que ficou aquém do que era projetado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Mas a partir dos dados recentes é possível fazer alguns ensaios que provoquem aprofundamentos em estudos para comprovar ou não algumas questões locais e regionais.
Há uma crença de que Maringá atrai mais pessoas de fora do que Londrina e por isso sua população residente cresce a uma taxa maior. Uma análise nos números não corrobora tal percepção.
Expansão demográfica maior ...
O censo de 2022 coloca Londrina como a maior cidade do interior do Paraná com uma população de 555.937 com uma taxa de crescimento anualizada de 0,776% desde o último censo de 2010, significativamente menor que Maringá, a 2ª maior, com 409. 657 habitantes e crescimento anualizado de 1,15%.
... suscita análise das variáveis ...
Para uma melhor compreensão do que estaria levando a cidade Canção a apresentar um crescimento populacional 66% maior (aumento absoluto de 52.580 habitantes) que Londrina (aumento absoluto de 49.236) entre um censo e outro, é preciso entender as variáveis que atuam sobre este resultado.
... como o crescimento natural ...
A diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade é chamada de crescimento natural. Taxas de natalidade superiores às taxas de mortalidade resultam em crescimento natural positivo.
... e a taxa de migração ...
Mas há outra variável que influencia a variação populacional, que é a taxa de migração - resultado da diferença entre o número de pessoas que entram e que deixam a cidade.
... que explicam a evolução populacional.
De posse das informações de pelo menos duas variáveis (V) é possível calcular a terceira. Tendo qual foi a evolução populacional (V1) em dado período e respectivo número de nascimentos e óbitos (crescimento natural V2) é possível obter a taxa de migração (V3).
Os números mostram crescimento ... No site do IBGE (https://cidades.ibge.gov.br) estão disponibilizadas as populações de cada cidade e no site do Portal da Transparência (https://transparencia.registrocivil.org.br/registros), são disponibilizados os respectivos registros de nascimentos e óbitos de 2015 a 2023.
..., mas não foi por migração ...
Projetando uma evolução constante das populações de ambas as cidades no período de 2015 a 2022, e subtraindo-se de cada ano a taxa de crescimento natural resulta que a taxa média de migração foi de 0,22% para Londrina e 0,20% para Maringá, para este período.
... e sim por crescimento natural.
Quando analisados os números de nascimentos e óbitos neste período, Londrina apresentou um crescimento natural de 0,64% a.a. (23.210 pessoas), enquanto em Maringá esta taxa foi de 0,98% a.a. (28.497 pessoas). Então, onde está a explicação?
Em Londrina nascem menos ...
Nestes 8 anos, a taxa de fecundidade em Londrina foi de 1,56% a.a. (62.436 crianças), enquanto de Maringá foi de 1,77% a.a. (53.402 crianças).
... e morrem mais ...
Os óbitos em Londrina apresentaram taxas de 0,92% a.a. (39.226 óbitos) enquanto Maringá a taxa foi de 9,70% a.a. (28.497 óbitos). Mas por que isso?
... devido a pirâmide demográfica...
Uma análise na forma com que a população de Londrina e Maringá estava distribuída em 2010 por faixa etária ajuda a explicar este comportamento.
... que mostra Londrina com mais idosos ...
Enquanto Maringá contabilizava uma população de 12,2% de pessoas com 60 anos ou mais, em Londrina este contingente era de 12,7%.
... e menos mulheres jovens.
E enquanto em Maringá o percentual de mulheres em idade fértil (aqui consideradas entre 15 e 35 anos) era de 27,2% da população, em Londrina este percentual era de 25,9%, ou seja, em Londrina a taxa de natalidade é menor e a taxa de mortalidade é maior que Maringá.
Duas conclusões.
Isto é apenas um exercício e com muitas limitações, cujo foco é mais o de fazer boas perguntas que trazer
boas respostas, mas os resultados sugerem que: 1) Maringá não atrai mais migrantes que Londrina, e 2) Londrina tem uma população mais velha que Maringá.
Não é difícil imaginar que estas diferenças demográficas tenham implicações econômicas.
Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.
A opinião do colunista não reflete, necessariamente , a da Folha de Londrina.