Os dados do Censo 2022 trouxeram, para a maioria de nós, algumas surpresas em relação ao crescimento populacional do país, que ficou aquém do que era projetado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Mas a partir dos dados recentes é possível fazer alguns ensaios que provoquem aprofundamentos em estudos para comprovar ou não algumas questões locais e regionais.

Há uma crença de que Maringá atrai mais pessoas de fora do que Londrina e por isso sua população residente cresce a uma taxa maior. Uma análise nos números não corrobora tal percepção.

Expansão demográfica maior ...

O censo de 2022 coloca Londrina como a maior cidade do interior do Paraná com uma população de 555.937 com uma taxa de crescimento anualizada de 0,776% desde o último censo de 2010, significativamente menor que Maringá, a 2ª maior, com 409. 657 habitantes e crescimento anualizado de 1,15%.

... suscita análise das variáveis ...

Para uma melhor compreensão do que estaria levando a cidade Canção a apresentar um crescimento populacional 66% maior (aumento absoluto de 52.580 habitantes) que Londrina (aumento absoluto de 49.236) entre um censo e outro, é preciso entender as variáveis que atuam sobre este resultado.

... como o crescimento natural ...

A diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade é chamada de crescimento natural. Taxas de natalidade superiores às taxas de mortalidade resultam em crescimento natural positivo.

... e a taxa de migração ...

Mas há outra variável que influencia a variação populacional, que é a taxa de migração - resultado da diferença entre o número de pessoas que entram e que deixam a cidade.

... que explicam a evolução populacional.

De posse das informações de pelo menos duas variáveis (V) é possível calcular a terceira. Tendo qual foi a evolução populacional (V1) em dado período e respectivo número de nascimentos e óbitos (crescimento natural V2) é possível obter a taxa de migração (V3).

Os números mostram crescimento ... No site do IBGE (https://cidades.ibge.gov.br) estão disponibilizadas as populações de cada cidade e no site do Portal da Transparência (https://transparencia.registrocivil.org.br/registros), são disponibilizados os respectivos registros de nascimentos e óbitos de 2015 a 2023.

..., mas não foi por migração ...

Projetando uma evolução constante das populações de ambas as cidades no período de 2015 a 2022, e subtraindo-se de cada ano a taxa de crescimento natural resulta que a taxa média de migração foi de 0,22% para Londrina e 0,20% para Maringá, para este período.

... e sim por crescimento natural.

Quando analisados os números de nascimentos e óbitos neste período, Londrina apresentou um crescimento natural de 0,64% a.a. (23.210 pessoas), enquanto em Maringá esta taxa foi de 0,98% a.a. (28.497 pessoas). Então, onde está a explicação?

Em Londrina nascem menos ...

Nestes 8 anos, a taxa de fecundidade em Londrina foi de 1,56% a.a. (62.436 crianças), enquanto de Maringá foi de 1,77% a.a. (53.402 crianças).

... e morrem mais ...

Os óbitos em Londrina apresentaram taxas de 0,92% a.a. (39.226 óbitos) enquanto Maringá a taxa foi de 9,70% a.a. (28.497 óbitos). Mas por que isso?

... devido a pirâmide demográfica...

Uma análise na forma com que a população de Londrina e Maringá estava distribuída em 2010 por faixa etária ajuda a explicar este comportamento.

... que mostra Londrina com mais idosos ...

Enquanto Maringá contabilizava uma população de 12,2% de pessoas com 60 anos ou mais, em Londrina este contingente era de 12,7%.

... e menos mulheres jovens.

E enquanto em Maringá o percentual de mulheres em idade fértil (aqui consideradas entre 15 e 35 anos) era de 27,2% da população, em Londrina este percentual era de 25,9%, ou seja, em Londrina a taxa de natalidade é menor e a taxa de mortalidade é maior que Maringá.

Duas conclusões.

Isto é apenas um exercício e com muitas limitações, cujo foco é mais o de fazer boas perguntas que trazer

boas respostas, mas os resultados sugerem que: 1) Maringá não atrai mais migrantes que Londrina, e 2) Londrina tem uma população mais velha que Maringá.

Não é difícil imaginar que estas diferenças demográficas tenham implicações econômicas.

Dr. Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente , a da Folha de Londrina.