Situação curiosa aconteceu na semana passada, com a divulgação dos dados de emprego do IBGE e do CAGED. Primeiro pela simultaneidade na data de divulgação de ambos os resultados (30/09) e depois porque as informações são diametralmente opostas. O resultado do IBGE aponta que a taxa de desemprego atingiu a maior alta já registrada na série histórica iniciada em 2012, com 13,8% de desempregados.

Os dados do CAGED, por outro lado revelam que o Brasil teve o melhor desempenho na geração de empregos formais para um mês de agosto, desde 2010. Quem está com a razão?

Duas bases de dados...

No acompanhamento da evolução do emprego no Brasil destacam-se duas fontes de dados: o CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, ligado ao Ministério da Economia, e a PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE.

... uma com foco no mercado formal ...

O CAGED é um Registro Administrativo cujos dados têm sua origem a partir das declarações enviadas mensalmente pelas empresas informando qual foi a movimentação de empregados ao longo do mês.

... outra no mercado total

PNAD Contínua é uma Pesquisa Domiciliar Amostral, de periodicidade trimestral, com objetivo de acompanhar as flutuações trimestrais e a evolução, no curto, médio e longo prazos, da força de trabalho, entre outros indicadores.

... e diferentes metodologias...

A PNAD Contínua é uma pesquisa estatística que coleta seus dados ligando para os domicílios dentro das Regiões Metropolitanas das capitais, sondando pessoas acima de 14 anos na condição de ‘ocupadas’, sejam com ou sem carteira assinada, com ou sem CNPJ.

... explicam as divergências

O CAGED, por sua vez, é uma pesquisa censitária que coleta seus dados com base na informação de todas as empresas em todos os municípios do Brasil, buscando qual foi o número de admitidos e desligados durante aquele mês específico.

Mas uniformizando o período ...

A PNAD contínua analisou o trimestre de maio a julho de 2020 concluindo que o Brasil contabilizou neste período 13,130 milhões de pessoas desempregadas, um aumento de 4,5% (561 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2019.

... o vetor é o mesmo

Em maio o CAGED mostra que o Brasil fechou 359.453 postos de trabalho com carteira assinada. Em junho foram mais 22.706 e julho saldo positivo de 141.190. Ou seja, no mesmo trimestre foram perdidos 240.969 empregos formais.

Conclusão 1

Tanto o CAGED quanto a PNAD mostram o mesmo vetor evolutivo dos empregos quando são analisados no mesmo espaço de tempo.

Conclusão 2

Se a PNAD analisa toda a força de trabalho e revela 561 mil novos desempregados no trimestre de maio a julho e o CAGED analisa somente os trabalhadores formais e concluir que foram 250 mil desempregados no período, o percentual de trabalho informal no Brasil está em 57%.

Conclusão 3

Certamente quando o trimestre em questão envolver os meses de julho agosto e setembro, a PNAD mostrará a evolução positiva nos empregos, alinhando-se aos resultados mostrados pelo CAGED.

Marcos J. G. Rambalducci, Economista, é Professor da UTFPR.

Escreve às segundas-feiras.