Em recente entrevista, o competente engenheiro agrônomo e ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, afirmou que é necessário agregar mais valor à produção agropecuária.

Tal fala pode dar a entender que a agropecuária, especialmente em se tratando da produção de commodities, tem baixa agregação de valor, o que não é verdade.

Podemos e devemos trabalhar no sentido de construir ainda mais valor às nossas commodities agrícolas e isso passa por entender como o valor é criado no processo de produção.

Os fatores de produção ...

De um prego a um satélite, passando também pela produção de soja, são necessários 5 itens denominados fatores de produção: recursos naturais; tecnologia, capital, mão-de-obra e capacidade empreendedora.

..., como são remunerados...

Cada um destes fatores é remunerado respectivamente por meio do que se convencionou denominar: aluguel; royalties, juros; salários e lucros.

..., onde é construído o valor.

Valor, por sua vez é a diferença entre os custos de produção e o preço de venda. Quando o preço de venda de um produto serve unicamente para cobrir os custos de cada um dos fatores de produção NÃO HÁ criação de valor.

... e como ele é materializado.

Valor somente existe quando o todo é maior que a soma das partes. Em outras palavras, quando o preço pago por um produto é superior ao que foi gasto na forma de salários, juros, royalties, aluguel e lucros.

A agregação de valor...

Quando se fala em adicionar valor a um produto, entenda-se, aumentar a distância entre o que é gasto para pagar os fatores de produção e o preço que o mercado está disposta a pagar pelo produto.

... e as formas de obtê-lo.

É possível agregar valor de duas formas: a) diferenciando o produto de maneira a aumentar o preço que o mercado está disposto a pagar por ele ou, b) reduzindo os custos de produção mantidos os mesmos preços que o mercado quer pagar por eles.

As commodities agropecuárias ...

Produtos brutos e não processados provenientes do setor agrícola e pecuário, com características padronizadas e que são comercializados em mercados globais são conhecidos como commodities.

... precificadas por quem não produz ...

E o fato de serem padronizados, fungíveis, de ampla disponibilidade e de baixa diferenciação, seus preços são cotados em Bolsas de Mercadorias e Futuros.

... exige o máximo de eficiência produtiva...

Se o que caracteriza uma commodity é indiferenciação do produto e da origem, a alternativa para um país produtor de commodities é ser mais competente que seus concorrentes e fazer mais com menos.

... para agregar valor ao produto.

É aumentando o total produzido utilizando a mesma quantidade de fatores de produção que é possível reduzir os custos e aumentar a distância entre o que é pago na forma de remuneração dos fatores e o preço estipulado pelo mercado.

... e é aqui que fazemos a diferença...

Graças a centros de pesquisa de excelência, como EMBRAPA, IDR Paraná (Iapar, Emater), EPAMIG, uma Academia com cursos de qualidade mundial e intercâmbios de pesquisadores, o Brasil tem construído uma eficiência ímpar na produção agropecuária.

... ao embarcar tecnologia na produção ...

O uso de tecnologia como sensoriamento remoto, drones, inteligência artificial, análise de dados, sementes adaptadas etc., é que se torna possível aumentar a produtividade e a distância entre custos de produção e preço de mercado.

... construímos toda uma cadeia de valor.

Enquanto a agricultura e a pecuária representam 6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro hoje e para Londrina 2,6% (dados de 2020), o agronegócio, que envolve toda a cadeia de aprimoramento das commodities, corresponde a 27%.

Precisamos sim, continuar o processo de agregação de valor às nossas commodities, mas temos que ter em mente que cada tonelada de soja brasileira embarca tanta tecnologia quanto qualquer outro produto manufaturado.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina