FED, sigla de Federal Reserve Board, é a instituição norte-americana responsável pela supervisão do sistema bancário e pela definição da política monetária aplicada no país. Em outras palavras, é o responsável pelo controle da inflação americana e funciona de forma semelhante ao Banco Central no Brasil.

A sinalização do FED de que irá aumentar a taxa de juros em mais 1% agora em julho colocou economias de todo o mundo em alerta, e é relevante entender que o Banco Central americano é, em essência, o Banco Central do mundo.

A inflação não é ‘privilégio’ nosso ...

A inflação ao consumidor nos EUA já chega a 9,1%, no acumulado em 12 meses, consequência tanto da injeção de dinheiro para socorrer famílias carentes quanto da escassez na oferta de produtos, em especial de cereais, petróleo e fertilizantes, resultado do conflito Rússia e Ucrânia, ou seja, os mesmos fatores que afetam os preços aqui e no restante do mundo.

..., tampouco a necessidade de controlá-la...

Para controlar esta alta nos preços é preciso reestabelecer o equilíbrio entre os dois pratos da balança – a quantidade de produtos precisa ser equivalente a quantidade de dinheiro disponível para comprá-los.

... e a forma de fazê-lo...

No curto prazo não dá para fazer muita coisa que eleve a quantidade de produtos ofertados já que é necessário primeiro plantar para depois colher, ou extrair para depois processar e vender. Então a solução está em controlar o outro prato – o da quantidade de dinheiro disponível. E aqui entra o trabalho do FED, igualzinho a qualquer outro Banco Central.

... é por meio dos juros.

O FED age buscando atrair o dinheiro que iria para o consumo - tanto na compra de insumos para a produção, quanto para produtos finais, aumentando os ganhos para quem investe em títulos públicos, ou seja, aumentando os juros para quem comprar títulos.

Elevando a taxa de juros lá ...

Assim, ao aumentar a taxa de juros o FED tira dinheiro do mercado, tentando equilibrar os dois pratos da balança. Claro, menos dinheiro disponível significa menor pressão sobre os preços, o que, em suma, é a forma de controlar a inflação.

... estimula a fuga de capitais daqui...

Ocorre que, ao aumentar a taxa de juros americana, os investidores estrangeiros em países como o Brasil, retiram suas aplicações daqui para comprar os títulos americanos a fim de aproveitar estes ganhos com os juros.

... desvalorizando nossa moeda, ...

Para sair do país o investidor precisa transformar Reais em Dólares, fazendo com que a demanda por dólares aumente, elevando seu preço e desvalorizando nossa moeda.

... fomentando exportações...

Com o Real desvalorizado, o produtor nacional prefere vender sua produção no mercado externo, pois se uma saca de soja está cotada no mercado internacional a US$ 30, com o 1 dólar valendo R$ 4 o exportador receberá R$ 120, mas a R$ 5 receberá R$ 150.

... e transferindo inflação para nós.

Então, para termos este saco de soja no mercado interno teremos que pagar os mesmos R$ 150, o que significou uma inflação de 25%. Ou seja, o FED controla a inflação nos EUA transferindo-a para nós.

Lembrar que a desvalorização do Real frente ao Dólar implica também no aumento de tudo que importamos, ou seja, desde insumos a produtos acabados, terão elevação em seus preços.

Nosso BC reage a isso ...

Na tentativa de evitar a fuga de dólares do país, nosso Banco Central precisará elevar também sua taxa de juros, aumentando a atratividade dos investidores para que mantenham aqui suas aplicações.

..., mas implica em desaquecimento.

Ora, um aumento de juros aqui significa redução na atividade econômica pois também o investidor nacional vai migrar seus recursos para títulos públicos em vez de investimentos produtivos, além de encarecer o dinheiro para quem precisa de crédito.

O FED é BC do mundo.

Assim o FED quando deseja controlar a inflação nos EUA está controlando a inflação no mundo, já que obrigará os demais BCs a subirem também suas taxas de juros.

Por isso, a preocupação de todas as economias quando o FED sinaliza aumento de juros, o que significa também que o FED não é o Banco Central dos EUA, mas é o Banco Central do Mundo.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

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