Aumento dos juros básicos como tentativa de neutralizar o furo no teto
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segunda-feira, 01 de novembro de 2021
Marcos Rambalducci
A última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central- COPOM, foi concluída com o anúncio na quarta-feira (27) pelo aumento em 1,50 ponto percentual na Taxa Básica de Juros, que baliza os juros para toda a economia.
Foi o sexto aumento consecutivo da taxa que chega a 7,75% ao ano, sendo a maior alta de uma única vez desde 2002. E esta alta tão expressiva está associada à manobra do governo para burlar o teto de gastos, conforme escrevi na coluna passada (24).
Porque do COPOM ter que forçar a alta nos juros em razão de tal manobra, nem sempre é tão clara assim.
A tarefa do Banco Central...
Mesmo que alguns entendam que não, o papel desempenhado pelo Banco Central, seja o nosso ou de qualquer outro país, é garantir a segurança financeira e econômica por meio de políticas monetárias.
... é de manter a estabilidade da moeda...
Esta tarefa implica assegurar que a moeda do país mantenha seu poder de compra. Em última instância é manter sob controle os níveis de inflação e disso é que resulta a segurança financeira e econômica da nação.
... e isso exige autonomia
O Banco Central do Brasil – Bacen, opera como uma autarquia autônoma que, por isso não deve estar subordinado a um dos poderes e precisa ter carta branca para aplicar políticas que visem garantir a estabilidade econômica do país.
SELIC como política monetária...
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia. Ela é o principal instrumento da política monetária do Banco Central, cujo objetivo maior é o controle da inflação impedindo a desvalorização da moeda.
... para conter a inflação
Quando o Banco Central, por meio do COPOM, aumenta a Taxa Selic, o que está fazendo é retirando dinheiro que seria utilizado no consumo ou na produção, desviando-o para aplicações financeiras.
Governo jogando contra...
Se por um lado, o Bacen procura retirar dinheiro da economia para conter a inflação, a manobra para furar o teto abre espaço para entrada de algo próximo a R$ 80 bilhões a serem gastos pelo governo em 2022, para bancar o Auxílio Brasil e emendas parlamentares em ano de eleição.
... e abandonando a política de austeridade...
Ao não respeitar o teto de gastos, o governo sinaliza que não vai cumprir com a promessa de manter uma política de austeridade adotada no Brasil desde 2015, e trazendo como consequência elevação da dívida pública e risco em honrar os compromissos com seus credores.
... obriga atuação mais severa do Bacen...
O Banco Central já havia iniciado o ciclo de altas de juros justamente para conter a inflação crescente, que em setembro chegou aos dois dígitos acumulados em 12 meses pela primeira vez desde o início de 2016.
... no controle da moeda...
Concordo com a opinião do pesquisador associado do FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), que a manobra do teto de gastos leva a uma elevação das expectativas futuras de inflação uma vez que cria incertezas e acarreta mais depreciação da nossa moeda.
... para minimizar o dano
Portanto, a elevação dos juros pelo Banco Central é uma forma de neutralizar as expectativas de inflação representadas pela decisão do governo em elevar substancialmente a quantidade de dinheiro em circulação por meio de aumento dos gastos, burlando o teto constitucional.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras
A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina

