Em várias oportunidades vaticinei que a aprovação da Reforma da Previdência levaria o dólar a uma queda para próximo dos R$ 3,60. Esta crença era compartilhada por praticamente todos os gestores de investimentos.

Na última terça-feira (22), o Senado Federal aprovou em segundo turno a Reforma, levando a bolsa de valores a bater recordes históricos, chegando a flertar com os 108 mil pontos na sexta-feira (25).

No entanto, à despeito de ter encerrado a semana em queda de 2,67%, a R$ 4,01, menor valor dos últimos 2 meses, está longe dos R$ 3,60. Por que?

O sobe e desce ...

O preço em reais da moeda americana reage exatamente como qualquer outro produto, respondendo à relação de oferta e demanda. Excesso de dólares faz seu preço cair, falta dele empurra o preço para cima.

... é dependente da oferta ...

O aumento na oferta de dólares ocorre por: a) superávit comercial – quando o país vende mais no exterior, as empresas recebem pagamento em dólar; b) gastos de turistas estrangeiros – o turista troca seus dólares por reais; c) Juros da dívida - quando a taxa de juros sobe, atrai investidores estrangeiros que precisam trocar dólares por reais para comprarem títulos públicos.

... e da demanda.

Já o aumento da demanda ocorre por: a) déficit comercial – compramos mais do exterior do que vendemos; b) viagens para o exterior – o turista precisará de dólares para gastar fora; c) Juros americanos - se os juros nos EUA sobem, sairão dólares do Brasil; d) aversão ao risco - se o investidor achar arriscado investir no Brasil, leva seus dólares para aplicações mais seguras em outros países.

A aposta na queda do câmbio...

O objetivo da Reforma é reduzir o déficit nas contas públicas, o que gera estabilidade econômica e credibilidade, fazendo com que aumente consideravelmente a quantidade de investimentos estrangeiros.

... pelo ingresso de investimentos ...

O estrangeiro que investe aqui, precisa trocar seus dólares por reais, e se for grande o valor investido, haverá muita oferta de dólares, derrubando a taxa de câmbio.

..., mas não só.

A Balança Comercial brasileira registra superávit de US$ 34 bi, enquanto no turismo aumentou a entrada de dólares em relação ao que sai em praticamente 9% na comparação com 2018. E embora o Brasil tenha reduzido seus juros, as taxas americanas também caíram.

Por isso deveria cair ...

Estas são as bases que sustentam a argumentação de quem, como eu, previa uma queda significativa na taxa de câmbio. O cenário todo apontava para uma oferta maior de dólares, derrubando significativamente a taxa de câmbio.

... então ... porque não caiu?

Ocorre que os investidores também ficam de olho no mercado internacional. A Alemanha em recessão; o Reino Unido e seu Brexit; guerra comercial entre EUA e China e outros indicadores econômicos prenunciam redução da atividade economia mundial.

Mar encapelado – refúgio no dólar...

Quando a economia mundial dá sinais de turbulência, investidor que é tudo, menos corajoso, corre em fuga desesperada para proteger seu capital, adquirindo dólares.

... e o câmbio não cai.

Com isso, os investimentos estrangeiros diretos que ingressariam no mercado brasileiro, aumentando a oferta de dólares e derrubando a cotação, não aconteceu.

Agora é refazer a pergunta que dá nome a uma matéria do Jornal Valor Econômico (11): Por que eles, os economistas, erram tanto?

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.