A sexta-feira (05) fechou com a cotação do dólar abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde 26 de março com uma queda na semana de 6,6%, a maior desde outubro de 2008, sendo que previsões de 15 dias atrás apontavam para o dólar custando acima de R$ 6,20 para esta data. Como pode?

Duas taxas de câmbio...

Para entender melhor a dificuldade em previsões na taxa de câmbio, é interessante definir o que é o câmbio real e o que é câmbio nominal.

... uma reflete o poder de compra...

A taxa de ‘câmbio real’ expressa a relação do poder de compra entre duas moedas. Suponha que para comprar um Big Mac no Brasil você precise desembolsar US$ 4 e este mesmo Big Mac nos EUA custaria R$16. Divida um pelo outro e terá a taxa de câmbio real, ou US$ 1 = R$ 4.

... e a outra o preço da moeda.

A taxa de câmbio normalmente divulgada é chamada de ‘câmbio nominal’, que expressa o preço de uma moeda. Imagine que em vez de ser dólares fossem bananas. Muitos querendo comprar, o preço sobe e se tiver muita oferta de banana, o preço cai.

A tendência de equilíbrio entre as taxas...

Ora, se em dado momento há uma procura muito grande por dólares, seu preço sobe. Mas se ele subir acima do câmbio real, dizemos que o dólar está valorizado e sua tendência será a de cair, buscando o equilíbrio com a taxa real, especialmente em economias que adotam o câmbio flutuante, como a nossa.

... ocorre de forma automática...

Suponha que uma saca de soja esteja cotada no mercado internacional a US$ 10 e o preço do dólar esteja a R$ 3. O exportador receberá o equivalente a R$ 30. Agora, se o dólar estiver a R$ 5 ele receberá R$ 50 por saca, o que o entusiasma para vender mais soja e trazer mais dólares.

... ora caindo...

Como o exportador precisa vender os dólares para obter reais, aumenta a oferta de dólares no mercado, fazendo com que sua cotação nominal tenda a cair.

... ora subindo.

O mesmo raciocínio é utilizado para quando o câmbio nominal está abaixo do câmbio real. Neste caso, teremos menos exportações e como consequência, menor oferta de dólares, elevando seu preço.

O problema de tentar prever...

Observe então que quem vai fazer alguma projeção para a taxa de câmbio nominal precisa considerar qual será a oferta e a demanda por dólares, bem como projetar o câmbio real, que será utilizado para saber se o dólar está valorizado ou desvalorizado.

... é administrar tantas variáveis.

Assim, para tentar estimar o comportamento do câmbio, é preciso saber pelo menos: a) a posição do câmbio no dia anterior; b) a posição do dólar no mundo; c) o preço das commodities; d) os juros nos EUA; e) o diferencial de juros entre Brasil e EUA; f) o risco Brasil; g) o comportamento dos agentes econômicos diante de uma briga comercial entre EUA e China.

É tudo palpite.

Ter controle sobre tudo isso faz com que seja raro acertar projeções do comportamento das taxas de câmbio e daí a crença de que “o câmbio foi a variável criada por Deus para prover humildade aos economistas”.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.