A IMPROVÁVEL AJUDA DA GUERRA NO CONTROLE DE NOSSA INFLAÇÃO
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 28 de março de 2022
Marcos J. G. Rambalducci
Não encerramos o 1º trimestre do ano e já recebemos de investimento estrangeiro R$ 82 bilhões na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), superando em mais de 15% todo o saldo positivo do ano passado que havia sido recorde na séria histórica iniciada em 2004.
Tal entrada de recursos estrangeiros, valorizou o real, levando a cotação do dólar a fechar na sexta-feira (25) ao menor patamar em mais de dois anos, a R$ 4,75.
Iniciamos o ano com o dólar na casa dos R$ 5,60, o que significa uma valorização do Real próximo a 18%, e isso traz benefícios significativos para o controle da inflação.
Estratégia de proteção ...
As empresas brasileiras com perfil exportador, calcado em commodities agrícolas e minerais, oferecem proteção tática contra a combinação preocupante de crescimento mais fraco e inflação mais alta no mundo.
... , percepção de ganhos com juros ...
Com títulos públicos pagando 11,75% ao ano para uma inflação esperada de 6,5% permitem ganhos com operações de carry trade, ou seja, tomar dinheiro emprestado em países com juros menores e aplicá-lo aqui, ficando com a diferença.
... e fuga da China e leste europeu...
Ainda temos a óbvia fuga de capitais da Rússia e Ucrânia para outros países emergentes, e a China que vive uma saída de investimento sem precedentes e ainda não bem entendida pelos analistas.
... explicam a valorização do Real.
A associação destes fatores levou o investimento estrangeiro a aportar seus recursos no Brasil. Eles trazem dólares, mas precisam trocá-los por Reais para comprarem títulos e ações. Com toda esta oferta de dólares seu preço cai, valorizando nossa moeda.
O impacto do câmbio na inflação ...
Com o dólar caindo frente ao Real, os insumos importados ficam mais baratos reduzindo os custos de produção. Por sua vez, nossos produtos no mercado externo ficam menos competitivos, levando os produtores a se voltarem ao mercado interno com preços menores.
..., estimado pelo pass-through ...
O pass-through cambial consiste em determinar o quanto uma variação de 1% na taxa de câmbio nominal impacta na inflação. Não é um indicador estático e depende das expectativas dos agentes e de peculiaridades momentâneas, no entanto, pesquisas recentes permitem aceitar que o repasse seja de 10% no prazo de 3 meses e de 15% em 12 meses.
... aponta queda de 2% nos preços.
Isso permite estimar uma queda na inflação de 2% no encerramento do 2º trimestre do ano, mantidas as condições atuais, unicamente em função desta valorização do Real frente ao dólar.
Não é suficiente, mas ajuda...
Claro está que ainda teremos pressão inflacionária vinda da alta dos combustíveis fósseis, em especial de gás e petróleo, no entanto, é um alento contar com uma condição, que se não neutraliza a inflação, ao menos a minimiza.
... e deve continuar.
Estrategistas financeiros avaliam que o Brasil, com sua oferta abundante de commodities, momento favorável para os resultados corporativos e retornos atrativos, continuará merecendo atenção dos investidores estrangeiros, embora não se espere um movimento tão forte como o deste início de ano.
Marcos J. G. Rambalducci é economista e professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.