Em coluna anterior abordei a necessidade de os governos terem preocupação com índices de inflação em função dos danos estruturais que ela pode causar.

É importante distinguir as causas do processo inflacionário pois não dá para utilizar o mesmo remédio para doenças diferentes.

É assim que saberemos qual posição defender e as razões para tal, bem como ter maior compreensão do dilema dos Bancos Centrais pelo mundo.

Inflação de demanda ...

É um fenômeno monetário decorrente de um desequilíbrio entre a quantidade de produtos que estão à venda (oferta) em relação a quantidade de produtos que se deseja adquirir (demanda).

... é resultado de desequilíbrio ...

Maior demanda que oferta eleva os preços e a isso denominamos inflação. O inverso também é verdadeiro – menor demanda que oferta os preços caem e chamamos de deflação.

... e não importa de que lado venha.

Não é necessário distinguir se a demanda é por matéria prima (insumos para a produção) ou por produtos acabados (para atender diretamente às pessoas), visto que uma não existe sem a outra.

E é diferente de inflação de custos...

Não é correta a interpretação de que a inflação seria de custos quando são os insumos utilizados na manufatura que aumentam e disseminam esta alta em toda a cadeia.

..., fruto da maior dificuldade de obtenção.

Inflação de custos ocorre quando a obtenção de uma matéria-prima se torna mais difícil e cara. É o caso de ter que extrair petróleo de águas mais profundas devido ao esgotamento da bacia. Não foi a demanda que provocou a alta nos preços, mas sim a maior dificuldade na sua extração.

Exemplo de inflação de demanda ...

Observe que a alta do petróleo não teve como causa o aumento nos custos de sua extração. O barril que chegou a estar a US$ 23 por falta de demanda no início de 2020, agora está a US$ 80 como consequência do aumento de demanda em função do aquecimento da economia.

... e de inflação de custos.

Já o aumento da energia elétrica é provocado pelo aumento nos custos de sua obtenção, que em função da falta de água nos reservatórios, exigiu a geração por usinas termelétricas, muito mais dispendiosas.

Causas diferentes ...

Então o que diferencia a inflação de custos da inflação de demanda não é o tipo de produto – se insumos ou bens finais, e sim qual foi sua causa – se desequilíbrio entre oferta e demanda ou se aumento no custo de sua obtenção.

... exigem remédios diferentes...

Para o consumidor final pode não parecer importante saber se a causa da alta nos preços tem origem no custo ou na demanda, mas de fato, saber a origem ditará qual o remédio que permitirá combate-la.

... e aqui está o problema...

Os Bancos Centrais somente têm remédios para o controle de demanda. Se os preços sobem o BC pode aumentar a taxa de juros tornando mais caro tomar crédito e menos atrativo investir na produção. Isso derruba a demanda e controla a inflação.

..., quando o remédio vira veneno.

Mas se a inflação é resultado do aumento dos custos porque ficou mais trabalhoso extrair uma matéria prima, aumentar os juros terá como resultado encarecer mais ainda a produção

A difícil missão dos BCs.

O cenário atual da inflação no Brasil, assim como no resto do mundo, tem componentes tanto de custo quanto de demanda.

Na falta do remédio para inflação de custos, caberá aos BCs calibrar a dose do remédio de que dispõe – a taxa de juros, e isso exigirá muita matemática e uma boa pitada de intuição.

A nós compete aumentar nossa compreensão sobre o que está acontecendo, pedir forças para mudar aquilo que está ao nosso alcance e serenidade para aceitar aquilo que não podemos mudar.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.