A difícil (e inglória) batalha do banqueiro central contra a inflação
PUBLICAÇÃO
domingo, 23 de abril de 2023
Marcos Rambalducci
É tema recorrente nesta coluna, a análise do papel dos Bancos Centrais na busca de impedir um processo de inflação e suas nefastas consequências. Se bem entendidas as causas da inflação, não é difícil perceber que algumas decisões econômicas tomadas em outras instâncias do governo, podem atrasar seu controle.
A demanda ...
A soma de todos os bens e serviços que são procurados para atender a uma necessidade é chamado genericamente de Demanda.
... por produtos finais ou intermediários ...
Importante ter em conta que a demanda pode ser tanto para consumo final quanto para insumos que serão utilizados na produção de novos bens e serviços. Portanto, investimento na produção também é demanda.
... deve estar equilibrada ...
Quando a quantidade de dinheiro disponível para a compra destes produtos é igual à soma de seus preços, a balança está equilibrada e os preços se mantêm estáveis.
... ou desestabiliza os preços ...
Situações em que a quantidade de dinheiro é maior que a soma do preço dos produtos leva a uma tendência ao reequilíbrio, ou seja, os preços vão subir para equalizar a quantidade de dinheiro à quantidade de produtos. A isso chamamos inflação.
... com impacto sobre nós consumidores.
Tal desequilíbrio pode ocorrer tanto no mercado de bens intermediários quanto no de produtos finais, mas venha de onde vier, a conta será paga pelo consumidor final.
Por diferentes causas ...
Este desequilíbrio pode ter várias causas: uma seca que reduz a produção agrícola, uma decisão da OPEP em reduzir a produção do petróleo, uma guerra que encareça o preço dos fertilizantes, ou a liberação de mais dinheiro que a quantidade de produtos disponíveis.
... e compete ao BC o seu controle.
É papel dos Bancos Centrais do mundo buscarem reequilibrar a quantidade de dinheiro disponível para a compra de produtos a fim de impedir a progressão de um processo inflacionário.
A lógica dos juros altos...
Entre as ferramentas para conter tal processo, a que se mostra mais eficaz é a de aumentar a taxa de juros pagos a quem empresta dinheiro para o governo. Assim, fica mais atrativo emprestar o dinheiro que utilizá-lo para consumo final ou investimentos na produção.
... para inibir o consumo...
Como consequência, os juros subirão também para quem quer pegar dinheiro emprestado, qualquer que seja a destinação que pretenda dar a ele.
... e desacelerar a economia ...
A ideia é ‘esfriar’ a economia para que a quantidade de produtos seja igual ao dinheiro disponível para sua compra. Portanto não faz sentido perguntar se juros elevados arrefecem a economia, pois é justamente esta a proposta.
... encontra resistência ...
Agora, quando o BC tenta conter o consumo e medidas em outras instâncias do governo trabalham no sentido inverso, é de se perguntar se seria a forma mais adequada de atuar na economia.
... em vez de apoio.
Queremos todos, juros baixos que facilitem o consumo e o investimento, mas é de se perguntar se o momento oportuno é agora, quando o Banco Central trava uma batalha enorme para refazer o equilíbrio perdido.
Uma sinalização errada.
Se não houver um comprometimento legítimo com a redução da inflação por parte do governo, as expectativas dos demais agentes econômicos apostarão em aumento da inflação e consequente manutenção ou elevação nas taxas de juros. E isso não é bom.
Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.
A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da FOLHA
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