Poucas personalidades históricas exercem sobre mim tanto fascínio quanto Rosa Luxemburgo (1871-1919). Polonesa, judia e revolucionária, ela foi um quadro fundamental da luta socialista no início do século 20. Rosa era ao mesmo tempo audaz e terna, implacável e romântica. Exerceu influência decisiva na construção de uma esquerda democrática, aberta, ciente de que é na história que se constituem as consciências humanas.

Inspirada num verso do “Fausto”, de Goethe, a autora de “Reforma ou Revolução?” sempre dizia: “No princípio, era a ação”. Bem diferente da maioria dos revolucionários de sua época, Rosa Luxemburgo preconizava que é a partir da organização e das lutas políticas que os trabalhadores adquirem ciência de quem são e das possibilidades dispostas às grandes transformações sociais. Fora dessa constatação, imperava a ideia arrogante de que líderes e partidos detivessem a forma pronta e acabada de como agir e, consequentemente, encontrar a verdade. É justo afirmar que Rosa entendeu Marx corretamente, já que supunha ser a ação livre e espontânea o berço da autorrealização humana.

A imagem que normalmente se tem de um revolucionário é a de um indivíduo durão, apesar de generoso e entregue de coração à sua causa. Nestes tempos de tanta desilusão e incerteza, o revolucionário é constantemente visto como um fanático, um ser perigoso e capaz de tudo para levar a cabo seus desejos de oferecer à realidade a feição que entende ser ideal. Assumir-se revolucionário hoje é aceitar correr riscos enormes, desde aqueles em que a pecha traduz infortúnios até os de tipo agressivo e estúpido dos neorreacionários – esse estranho tipo humano burguês que se declara “liberal na economia e conservador nos costumes”. Esconjuro.

Rosa Luxemburgo não representava nada disso. De uma feminilidade singular, era delicada e avessa à violência, não obstante esbanjasse valentia e inclinação ao bom combate. Era apaixonada pela vida e sonhava conciliar as batalhas pelo socialismo e a plenitude da individualidade. Sentia-se completa em meio à natureza, entre cantos de pássaros e correntezas de rio. Deleitava-se com poesia e admirava todas as artes. Rosa era sensível e solidária, uma amiga rara, uma amante impetuosa e dedicada. Seus breves e intensos 48 anos se caracterizaram pela coerência de quem optou por mudar o mundo para só depois viver em paz consigo mesma. Nunca desistiu de seus princípios e valores forjados na convicção de que só o processo revolucionário permite a cristalização de elevadas esperanças.

Em 1919, quando combatia nos interstícios da guerra civil alemã, Rosa Luxemburgo foi covardemente assassinada por milicianos de ultradireita. No auge de suas teorizações contra o oportunismo dos social-democratas e a hipocrisia liberal que promovia a guerra contra os mais indefesos, a autora de “A Acumulação do Capital” tombou diante do horror contra o qual havia mobilizado toda a sua existência. Mas viveu cada instante no turbilhão de emoções que a animava, onde se ouve o bramir do vento. Rosa é vermelha e eterna.

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