Embora passe rapidamente, a semana comporta muita coisa. Em sete dias, olhando bem, o número de acontecimentos locais e globais não é nada desprezível. Na economia, na política, na cultura, na esfera dos hábitos e costumes, tudo é contemplado. Os números que regem nossa vida se alteram, os acordos táticos e estratégicos entre burocratas seguem firmes, a criatividade humana não para jamais. Ao mesmo tempo, o meio ambiente continua solapado e o cotidiano finge estar congelado, como se tudo permanecesse da mesma maneira sempre.

Em busca de um tema ou evento que valha a pena comentar ou utilizar como ilustração para uma reflexão mais abstrata, sofremos – nós, os escritores – com a abundância dos fatos, a aceleração histórica e o encurtamento do espaço-tempo. A realidade, para todos os efeitos, é dinâmica e complexa, cheia de sinuosidades e incompletudes. Quem quer que imagine dar conta do mundo, sofrerá enorme decepção. Em tempos de tanta imbecilidade à solta, é bem difícil separar o joio da joia e saber o que se está a pensar, dizer e fazer.

Na semana passada, critiquei aqui na coluna a visão fantasmagórica que a extrema direita tem do “comunismo”. O neofascismo deste século 21 enxerga comunistas em toda parte, nas universidades, nos espaços jornalísticos, nas instituições públicas, no interior dos três poderes, nas escolas de samba, nas sacristias, nas reuniões de condomínio e até nas caminhadas pelo Zerão. Para justificar seus delírios, os adeptos de tal disparate aproximam ideologias opostas e tentam, com isso, apagar aquilo que lhes caracteriza: o ódio como representação direta da estultice.

Pois bem. Recebi, por causa da minha crítica, algumas mensagens desamorosas. Uma delas me acusava de agente bolchevique infiltrado no jornal, um filhote de Antonio Gramsci, aquele “globalista” destruidor da fé e da família. Uma outra se dizia indignada pelo fato de haver espaço aberto a gente que, como eu, defende o aborto, o “gayzismo”, a igualdade racial (juro!) e o presidente “descondenado” da república. Os dias foram se passando rapidamente, e esses desaforos ficaram para trás, como bafo quente indesejável. O excesso de mensagens não conseguiu esconder a miséria de seu conteúdo.

É óbvio que não respondi às acusações nem dei trela para superlativo ranço. Esse tipo de coisa é como golpe virtual: tudo que desejam seus emissários é que haja reação, para roubo de dados, paz e bem-estar. Aprendi que esse tipo de gente se trata com algum riso e exposição irônica. O maior adversário dos extremistas e dos seguidores de falsos profetas é o bom senso – serenidade, equilíbrio e respeito maltratam demais os covardes, mentirosos e fãs de fraudes epistemológicas.

“O tempo voa e não faz escala em nenhum lugar”, como cantava um bom rock de minha adolescência. Mantenho-me à espera de alguma boa contribuição dessa gente à vida das pessoas, ao entendimento do mundo comum, à promoção da felicidade geral. Enquanto isso, a semana passa e eu sigo à cata de histórias para contar. Todo dia.

* A opinião do colunista, não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.