É reiterada minha crença na inesgotabilidade do real. Afirmo com isso que há uma superioridade das dinâmicas da realidade em relação às possibilidades do conhecimento. Por mais perspicaz que seja, o pensamento não é nem será capaz de abraçar tudo e todos. Sempre existirá algo mais.

Dessa convicção nasce a certeza de que só a ciência, como meio de proporcionar saberes e desvendar mistérios, não basta. A arte, que apela à nossa sensibilidade e cria espaço para que as emoções também contribuam no processo de elaboração de visões de mundo, é imprescindível. Sem envolvimento direto e prolongado com os objetos culturais, perdemos uma rica dimensão de nossas habilidades do pensar; exageramos na chamada racionalidade e esfriamos muito da beleza da vida. Arte e ciência, assim, se complementam. Os olhares sensível e racional divergem nos métodos, mas visam a uma mesma questão, qual seja: permitir que nos iludamos diante de nossa suposta sabedoria.

Tal ilusão, contudo, é necessária. Sem ela, a arrogância nos totaliza. Nada mais arriscado do que conceder ao conjunto de nossos conhecimentos um alto grau de distinção. A humildade é irmã gêmea dessa ilusão tão presente. Saber que conhecemos pouco e precariamente a realidade é sinal de inteligência exaltada. Para que cheguemos a tanto, temos de observar com calma o mundo e vislumbrá-lo a partir de múltiplas perspectivas. Quanto mais luzes lançamos sobre o palco, tanto melhor.

O filósofo húngaro Georg Lukács (1895-1971), no final de uma longa vida dedicada a grandes reflexões, definiu o humano como “um ser que dá respostas”. Hoje, as mais urgentes perguntas partem de necessidades educacionais, escolares ou não, que evidenciam uma realidade em rápida e desnorteante transformação. É importantíssimo que calibremos nossas percepções para superar os desafios do agora. Em jogo, toda a nossa forma de ser e viver, sem exceções.

Antes de mais nada, precisamos atentar que existe um deslocamento do centro do planeta para a Ásia. É lá – principalmente da China – que boa parte do que ocorre no mundo grita (e grita bem alto). Um certo olhar para o Oriente tornou-se vital, questão de sobrevivência dos oportunos saberes. Tudo que “orienta” nossas vidas nascerá do outro lado do mundo, cada vez mais e de modo mais intenso.

Não podemos, também, perder de vista o antropoceno, essa era de fortes impactos produzidos pelo humano sobre a Terra. Se não alterarmos o modo de produzir, distribuir e consumir, deixaremos que o capitalismo, enfim, destrua o planeta. O slogan “Outro mundo é possível” deveria estar inscrito em toda parte, bandeiras, notas de dinheiro, maços de cigarro, telefones celulares etc.

Para completar (mas longe de esgotar os desafios), vale refletir sobre a era digital e o tamanho das complicações que ela traz. O modo como dispomos das tecnologias de comunicação precisa ser politizado – e é por isso que compõe nossas mais significativas urgências educacionais. Se somos seres que damos respostas, precisamos, mais do que nunca, fazer jus a isso. E é para anteontem.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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