Há quase 100 anos nascia o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Poucas agremiações compuseram com tanta intensidade o século 20 no país. Em 1922, ao lado da efervescência da Semana de Arte Moderna e de agitadas manifestações de rua que marcaram a vida nacional, o PCB surgia para inflamar a sociedade civil e contribuir de maneira dinâmica na política e na cultura brasileiras.

O PCB foi desde o início uma sigla nacional e internacional. Voltava-se para dentro, protagonizando ricos debates sobre os caminhos da revolução brasileira, e para fora, buscando sintonia com os grandes acontecimentos mundiais.

As raízes do PCB eram as classes trabalhadoras que emergiam numa nação cada vez mais complexa. O crescimento da vida urbana e a aceleração nos processos de industrialização culminaram na formação de um partido com milhares de membros, estreitando relações com o desenvolvimento brasileiro.

Sempre atento às transformações locais e globais, o PCB se atualizava alterando os alicerces de suas atividades. Ainda que tenha permanecido a maior parte de sua existência na clandestinidade – resultado da Guerra Fria e de um perene anticomunismo à brasileira – o “Partidão”, como ficou conhecido, aglutinava grandes nomes em torno de si. Lidando com as dificuldades de seu tempo, o PCB buscou sempre o diálogo com artistas, intelectuais e até militares, numa época em que vários projetos de nação disputavam hegemonia no Brasil.

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. | Foto: iStock

O rol de célebres comunistas não é nada modesto. Como pensar o Brasil sem a literatura de Jorge Amado e Graciliano Ramos? Como ficar alheio à poesia de Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade e Manoel de Barros? De que maneira conceber as artes plásticas sem Cândido Portinari, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti? Seria possível pensar o cinema sem Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman e Sílvio Tendler? E o teatro sem Oduvaldo Viana Filho e Gianfrancesco Guarnieri? Seria imaginável a ciência brasileira sem Mário Schemberg e Luiz Hildebrando? Não seria descabido contar a história do jornalismo sem o Barão de Itararé, Sérgio Porto e Vladimir Herzog? Como se pode perceber, a lista é imensa e atravessa todas as faces nacionais. De modo direto ou indireto, a maioria dos grandes nomes do país acenou com encanto ao PCB, em algum momento de sua trajetória centenária.

Às lutas do PCB, em alguma boa medida, também se devem a constituição cidadã de 1988, os sindicatos de trabalhadores, a demarcação de terras indígenas, a criação de agências de fomento e pesquisa, a ampliação dos investimentos públicos em educação e saúde e as bandeiras por emancipação de jovens, mulheres, negros e todas as minorias sociais. Antenado com sua própria história, o PCB sempre foi porta-voz de uma democratização radical do país.

Ao longo de 100 anos, várias gerações vêm à luz, deixam suas marcas e se transformam em herança e memória. É difícil contar qualquer trecho da história do Brasil sem fazer referência ao PCB, concorde-se ou não com suas posições. Seu itinerário de lutas é ponto de partida daqueles que seguem na batalha das ideias e em busca de um país que valha a pena amar.