Alguns dias atrás recebi um e-mail bastante curioso. Uma senhora que se dizia leitora desta coluna confessava ter despertado em si um enorme interesse pelo pensador Walter Benjamin graças aos meus escritos, que, segunda ela, dialogam diretamente com o autor de “Rua de Mão Única”.

A simpaticíssima senhora havia lido, anos antes, meu livro de crônicas, intitulado “Coração de Benjamin”. Nessa obra, reúno textos que redigi para uma coluna diária que tinha na rádio e, também, para postagens em meu antigo blog, mantido on-line durante mais de dez anos.

Trocamos impressões sobre Benjamin, leituras fundamentais, obras marcantes, traços biográficos e, principalmente, a respeito da atualidade de seu legado. Agrada-me demais conversar sobre o autor que redefiniu minha forma de ser e estar no mundo. Sem exageros, assumo que há um antes e um depois do crítico alemão em minha vida.

Para início de conversa, Benjamin oxigenou meu marxismo, oferecendo-me uma visão mais dilatada da realidade. Aliás, ele mesmo era um marxista “sui generis”. Prestava-se muito pouco a heterodoxias e não rezava cartilha nenhuma. Embora tenha tido uma vida brevíssima, pôde escrever bastante acerca de inúmeros assuntos, colecionando temas que puderam ser apreciados por várias gerações de intelectuais vindouros. Não é arriscado afirmar (ao contrário, penso que seja louvável) que existe uma maneira “benjaminiana” de interpretar o mundo.

Por causa das ideias desse filósofo tão sensível, tornei-me capaz de enriquecer minhas opiniões à esquerda sem perder de vista a complexidade infinita dos fenômenos sociais. Em vez de dispor tudo em colunas, antagonizando possibilidades, aprendi com Benjamin que há atravessamentos, insinuações, justaposições entre os elementos que se põem diante dos sentidos e apelam à razão. Sendo coerente com os ensinamentos do autor das belas passagens parisienses, reporto-me à realidade sempre como algo aberto, em movimento, imponderado e suscetível à ação humana transformadora.

Há, contudo, certa melancolia em Benjamin. O progresso não é confiável, uma vez que se faz sobre os escombros do tempo histórico. O bom caminho para o pensamento pertinente deve levar em conta, além dos fatos vividos, tudo que poderia ter sido. Nesses termos, é “benjaminiano” por excelência reler o passado a fim de lhe descobrir tendências, pulsões, forças contidas. É no escovar a contrapelo a história que reside a chance de obtermos futuro de fato, humano, compartilhado, sem as ilusões da linearidade ilusória dos acontecimentos. Assim, será dos oprimidos o amanhã.

Assistindo a minissérie “Transatlântico”, da Netflix, deparei-me com um Walter Benjamin assustado, completamente rendido à tragédia, incapaz de sorrir. Sabemos, no entanto, que Benjamin era um sujeito paciente, muitíssimo bem-humorado, embora intranquilo. De qualquer maneira, é bom vê-lo homenageado na tela, lembrado pelas e para as novas gerações. Nenhum autor é tão hábil em promover revoluções no espírito quanto ele.

Leiam Walter Benjamin!

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