Tenho os dois pés atrás quando o assunto é generalização. Desconfio de posições que assumem a redução como seu principal objetivo. Dizer que todo homem é isso, toda mulher é aquilo, todo pobre é assim ou todo rico é assado não contribui para um bom debate – e torna impossível um conhecimento pertinente sobre temas ou questões.

O mundo contemporâneo tem sido terreno fértil para esse tipo de expediente simplificador. Eliminar a complexidade da vida, tornando a experiência humana algo facilmente explicável, é a coqueluche do momento. É cada vez mais raro encontrar espíritos inquietos e desafiadores, que fazem da dúvida a razão de ser do pensamento.

Walter Benjamin (1892-1940) é um excelente exemplo de vida fora do esquadro. De ideias livres e reflexão autônoma, o autor das famosas teses “Sobre o conceito de História” é um interlocutor instigante. Não há em sua obra detalhe que não preze pela riqueza analítica, pelo apreço ao rigor, pela beleza da forma. Benjamin foi filósofo, crítico literário, poeta, musicista, sujeito de grande fortuna intelectual. Ao mesmo tempo, como escreveu sua amiga Hannah Arendt (1906-1975), não foi nada disso; foi apenas um homem simples, um indivíduo único, encantado pela capacidade humana de desvendar mundos.

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De todas as quebras de paradigma de Benjamin, gosto mais de sua inédita concepção de revolução. Marxista tardio, o autor de “O narrador” não acreditava numa história linear, num progresso irrefreável. Para ele, a revolução seria a descontinuidade da história, e não a sua realização.

Diferentemente de Marx e de uma larga tradição à esquerda, que definiam a revolução como o ponto culminante de “desenvolvimento das forças produtivas”, Benjamin designava a revolução como um “freio de emergência”. Explico: a sociedade capitalista é tomada por inúmeras patologias, todas destrutivas, que precisam ser interrompidas – para salvar o mundo, é preciso deter a história tal qual ela se apresenta, formulando alternativas compatíveis com mentalidades realmente revolucionárias. Se a história “se cumprir”, como desejavam os aguerridos comunistas dos séculos 19 e 20, o que irá surgir não será o “reino da liberdade”, mas, sim, a barbárie.

Para o romantismo de Benjamin não havia, na aurora da história, opressões e repressões. Se hoje elas figuram como protagonistas, é preciso retirar-lhes esse papel. Daí que o processo revolucionário não deve visar ao “desenvolvimento” daquilo que está doente. Deve, de outro modo, combater toda expressão de desigualdade e injustiça. Assim, não é a economia o “motor da história”; é a política, ou seja, a capacidade que o gênero humano ainda irá demonstrar de erigir uma sociedade realmente livre e fraterna.

Benjamim é exemplo de como não há definições que deem conta de tudo e todos. Ele era marxista, mas de um jeito muito peculiar. Era um sujeito de ideias progressistas e avançadas, mas singular em cada argumento.

A obra e a vida de Walter Benjamin são excelentes antídotos contra cegueiras ideológicas. Benjamin – ele, sim – é um verdadeiro “freio de emergência”.