Cada época tem suas questões. O conjunto de respostas possíveis nasce, portanto, de uma leitura sagaz do “espírito do tempo”, ou seja, das mentalidades em circulação, dos desejos expressos por palavras e ações. A compreensão do “zeitgeist” (a expressão em alemão para designar o “espírito de uma época”, o “sinal dos tempos”) exige, pois, estado permanente de atenção e envolvimento crítico. É impossível pertencer a um período histórico sem se dar conta do que está em jogo.

Imagem ilustrativa da imagem Espírito do tempo
| Foto: iStock

Antes de tudo, é imprescindível não confundir modismos com o “espírito do tempo”. Aquilo que vai e vem, ocupa praças e avenidas, invade moradas e destrói corações, para, em seguida, desaparecer sem deixar vestígio nem lembrança, não colabora na constituição do “espírito do tempo”. Oportunistas e parasitas surfam nas ondas de ideias vendidas no varejo em tempos de crise, dissolução de valores e perda de energias coletivas, assim como “modinhas” de rebeldia logo dão lugar a práticas bastante inquisitoriais. Tragicamente, o indivíduo que hoje cospe fogo contra o sistema será amanhã um CEO de empresa transnacional ou um “coach” à cata de desavisados.

Entender o “espírito do tempo” requer, de outro modo, investigar a fundo as tradições que se sucedem e disputam lugar na história. De que maneira elas aparecem, somem ou se transformam, muitas vezes se juntando a outras, opositoras ou não? Quais ciclos de ideias definiram os usos e costumes, as práticas e inspirações de um dado momento? Que tipos de personalidade influenciaram diferentes gerações, abriram caminhos para mudanças sociais, impulsionaram revoluções técnico-científicas, artísticas e políticas? Quais permanecem orientando sentidos de vida e por quê? Respostas, sempre provisórias e abertas, a essas questões indicam o movimento incessante do “espírito do tempo”.

Aqueles que se perdem pelas veredas, mudando de opinião e estilo ao sabor de ventos alheios ao “zeitgeist”, sofrem e, para não enlouquecer, reduzem o mundo ao vertiginoso declínio do próprio olhar. Não entendem o “espírito da época” nem são capazes de superá-lo, influenciando-o de algum modo em seu eterno percurso. Vivem à margem da história, apesar de se apresentarem como vanguarda de ideias. No fundo, não passarão, sabem disso e, por essa razão, gritam, polemizam, tentam prolongar seus 15 minutos de fama. Voltarão ao lugar de onde vieram: o nada.

O mundo será sempre um lugar melhor para aqueles que se dispuserem a perceber o ritmo do “espírito do tempo”, não para a ele se associar, acriticamente, mas para se habilitarem a alterá-lo, desviando-o para afluentes mais generosos. Em tempos de crise da cultura (da “bildung” ou “busca por perfectibilidade”, como ensinou Hegel), não maltratar o “espírito do tempo” com alucinações ou assaltos à inteligência já é atitude para lá de honrosa, um suspiro ético em meio à insalubridade de almas e ideias mesquinhas.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL – [email protected]