Não é preciso ser um estudioso da política para concluir que vivemos tempos muito difíceis. Da inflação que corrói salários – sem falar na extinção de tantos salários – aos impropérios que são ditos no topo do poder, tudo assusta, deprime, mitiga esperanças.

Em muitos momentos do dia, quando trocamos ideias com amigos e familiares, temos a impressão de que estamos cercados por “fake news”, tamanho o absurdo daquilo que é dito, daquilo que é repetido à exaustão. A sensação mais recorrente é a de que tudo virou um pesadelo, uma nada criativa história de ficção não científica.

Imagem ilustrativa da imagem Enchendo a lata de lixo da história
| Foto: iStock

Sempre acreditei que as elites devem dar exemplos de como agir, como pensar diante das circunstâncias. Penso elite no sentido sociológico clássico, ou seja, como aqueles, em seus respectivos papéis, considerados os melhores. Hoje me atordoa o acumpliciamento de parte significativa das elites com esses que nos governam. Somos conduzidos pelos piores, pelo que há de mais infame na vida política nacional. Basta ver como o país anda se desmanchando na saúde, na educação, na ciência, na proteção ao meio ambiente... Orçamentos cada vez menores são destinados a realidades complexas e exigentes.

Temos sido governados pela aliança entre “sujos e malvados”. O pior do empresariado, o pior da representação política, o pior de tudo. Unidos, “sujos e malvados” destroem o país, liquidam o futuro e põem a culpa nos outros, nos fantasmas do comunismo, na esquerda, em tudo que não seja espelho.

Desde o início, os atuais mandatários têm agido como se fossem uma “contraelite”, os únicos e legítimos representantes do “povo”. Para tanto, o bando partilha o Estado com “amigos”, como proprietários de redes de lojas, restaurantes, convênios de saúde e destruidores do meio ambiente. Tudo que possa lhe impor freios – o STF, por exemplo – é rapidamente acusado de “antipovo”, demonizado a todo instante.

Populistas e reacionários, os governantes do agora são puro revanchismo e ressentimento. Isso explica a inércia de suas atitudes, o vazio de suas experiências no mundo público. Para não cair tropeçando nos próprios pés, aliaram-se ao “centrão”, aquela generosa fatia do Congresso que está disposta a tudo, desde que seja muito bem paga.

O fato, contudo, é que a realidade que eles defendem não existe (é só recordarmos o discurso recente do presidente na ONU). Por isso, tantos inimigos invisíveis, tantas acusações sem provas (Comparado a um jogo de cartas, o governo atual é apenas um blefe.)

No fim, sem as graças do “centrão” e o apoio popular, desterrado pela inflação, pelo desemprego e pelo sumiço de políticas públicas, seu destino será a grande lata de lixo da história. Mas isso vai demorar um pouco. É preciso ter paciência e não deixar de lutar e resistir.

...

Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina.