Esta semana o curso de Ciências Sociais da UEL está comemorando 50 anos de existência. Ele e eu nascemos praticamente juntos. Mais do que isso: num determinado momento da minha vida, quando ingressei na universidade, nossas histórias, mesmo quando corriam de modo paralelo, nunca mais se separaram. Posso atestar que minha trajetória pessoal e profissional deve quase tudo a esse curso tão nobre, inspirador e necessário.

Em 1973, o Brasil estava sob jugo de uma ditadura civil-militar em um de seus momentos mais cruentos, com a censura e a perseguição política no auge. Paradoxalmente, no interior do Paraná, crescia uma universidade promissora, cheia de estímulos e variadas dedicações humanas. Uma das facetas da recém-criada instituição foi depositar fé na proposta de formar cientistas sociais, gente habilitada a pensar, inquirir e mudar o país. Um ato em si de grande coragem, por suposto. A ousada ideia gerou frutos: sociólogos, antropólogos e cientistas políticos oriundos da UEL estão por todo o Brasil, ministrando aulas, fazendo pesquisas, levando adiante aquele sonho nascido há meio século.

Eu adentrei o ensino superior 30 anos atrás. Não havia ainda completado 20 anos. Era um rapaz repleto de utopias, portador de uma crença que até hoje, amadurecida, me alimenta: contribuir para tornar o único lugar que nos foi dado viver um espaço múltiplo, democrático, sempre viável e feliz. Aprendi no curso de Ciências Sociais que vale a pena investir fortemente nessa vontade; que é possível compreender o porquê de nossas relações sociais e de nossa organização político-cultural; que é desejado um bom diagnóstico de nossas experiências comuns; que é fundamental, como sugeriu o sociólogo franco-argelino Pierre Bourdieu, restituir às pessoas o sentido de suas vidas. Nas Ciências Sociais da UEL descobri que as coisas não ocorrem por acaso, que não existe fatalismo capaz de explicar a razão (e a emoção) dos fenômenos. Tudo é obra de nossas ações, em nossos percursos, mediante as escolhas que fazemos, de modo livre e espontâneo ou não.

Vi-me, na última década do século 20 e na virada centenária, cursando a graduação e a pós-graduação em Ciências Sociais da UEL. Sou, com muito orgulho, aquilo que se chama “prata da casa”. Em 2014, após um longo período atuando em diversas faculdades da cidade e da região norte do Paraná, ingressei na UEL como professor concursado, concluindo a primeira fase de um itinerário sinuoso, instável e, contraditoriamente, esperançoso. O hiato temporal que me “afastou” da UEL e das Ciências Sociais, contudo, não me fez perder o horizonte: o que eu queria mesmo era minha volta ao lar, caminhar pelo campus, respirar o ar do CLCH. Nada é suficiente para expor a satisfação de ter sido criatura e agora, modestamente, ser parte da criação das Ciências Sociais da UEL. É algo realmente monumental.

Os desafios são inúmeros e instigantes, mas acredito no centenário que virá. Que as futuras gerações possam amar esse curso tanto quanto eu e os bons colegas de ontem e hoje. Acima de tudo, Londrina merece.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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