Há pouco mais de 6 anos encarei o desafio de escrever uma coluna semanal na Folha de Londrina. Antes disso, por quatro anos, eu narrei minhas crônicas numa estação de rádio diariamente. E lá atrás, no início deste século, publiquei 31 textos num periódico de Cornélio Procópio. Durante todo esse tempo, eventualmente, redigi alguma coisa para a própria Folha e para o extinto Jornal de Londrina.

Como acadêmico, considero fundamental esse meu lado de “intelectual público”. Não aceito o encastelamento e acho temeroso ter como interlocutores apenas meia dúzia de pares na universidade. Ao escrever para grandes veículos, atrevo-me a influenciar o debate coletivo, a opinar sobre temas que atingem diretamente as pessoas. Acredito até na ilusão de fazer alguma diferença nesse processo, provocando discussões e modificando posicionamentos aparentemente inflexíveis.

Hoje “A Cidade Futura” chega ao número 300. Fiz uma breve pesquisa e constatei que não são muitas as iniciativas abertamente de esquerda que chegaram tão longe. É bastante coisa. Seria o suficiente para que nascessem e morressem grandes paixões, tivessem início e fim horrendas guerras, fossem desenroladas revoluções populares, formasse-se um médico como Josué de Castro, um professor como Paulo Freire, um arquiteto como Oscar Niemeyer ou um jornalista do quilate de um Vladimir Herzog.

O tom geral da coluna tem sido o da crítica àquilo que o filósofo francês Gilles Lipovetsky chama de “felicidade paradoxal”, ou seja, um sentimento que se regozija de uma vida material cada vez mais abundante, assim como de respostas precisas a problemas milenares, e, ao mesmo tempo, cria indivíduos isolados e desolados, suscetíveis ao efêmero e enganoso. Nesse sentido, defendi sem pestanejar o espírito republicano, a vida democrática e a urgência de uma alternativa socialista ao capitalismo. Como ensinou Walter Benjamin, o mais recorrente dos pensadores por aqui, ou puxamos o freio de mão, ou experimentamos a barbárie.

Em 300 textos, expus os livros de que mais gosto, os filmes que despertam em mim grandes sensações e os discos que compõem a trilha sonora da minha vida. A cultura é para mim a base do processo civilizatório, o espelho que nos reflete, o caminho que pode desnudar grandes transformações, ensejar novas mentalidades, salvar-nos da mediocridade. Aqueles que desabonam a produção cultural e fazem cara feia para as artes costumam defender armas de fogo, disseminar intolerância e votar nos piores exemplares do gênero humano – os tipos capazes de dilacerar a saúde e a educação públicas, venerar torturadores, roubar e vender joias e serem aplaudidos como heróis por multidões carentes de calor humano, solidariedade e amor real.

É difícil estimar, num cenário impróprio e protagonizado por atores hostis e violentos, quanto ainda pode durar uma proposta como “A Cidade Futura”. De qualquer maneira, é gratificante colher palavras elogiosas e abraços apertados na rua, uma resposta a este trabalho feito de modo honesto, gratuito e voltado, exclusivamente, para a esperança. Por ora, esperancemos!

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.