Por razões (e emoções) pessoais e profissionais, dedico-me diariamente ao pensamento e à obra de Leandro Konder (1935-2014), que permanece sendo minha maior referência humana e intelectual.

Ao longo de uma intensa vida como militante político e sujeito de ideias, Konder escreveu centenas de artigos e publicou quase 30 livros. Como marxista convicto, soube dialogar com oponentes; destacou que era necessário estar atento às provocações daqueles que viam o mundo de maneira diferente; insistiu na autocrítica, na urgência de aprendermos a rir de nós mesmos, a não nos levarmos muito a sério.

O jovem Konder ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) aos 15 anos de idade. Como todo adolescente, tinha a cabeça povoada de sonhos e desejos. Foi-lhe difícil conciliar as demandas rígidas da militância partidária com as seduções um tanto quanto inconsequentes da juventude. No fim, criou uma síntese: tornou-se um pensador marxista leve, aberto, bem-humorado, de firmes posições ideológicas e incontornável predisposição para o diálogo, para o beber noutras fontes de conhecimento e sensibilidade.

Leandro Konder
Leandro Konder | Foto: Divulgação

No curso da vida, o autor de “A questão da ideologia” (aliás, um de seus livros mais ambiciosos e interessantes!), manteve admirável coerência de princípios e valores, mesmo em meio a mudanças de atitude diante da inesgotabilidade do real. Defendeu as liberdades humanas, condenou os regimes autoritários aqui e acolá, empenhou-se em evidenciar a superioridade moral da vida democrática e, como poucos, ligou-se estreitamente às ideias socialistas, cuja difusão foi um dos pilares de seu trabalho intelectual.

Leandro Konder foi um promotor da vida cultural nacional. Além de seus estudos sobre “estética”, que elevaram os significados da arte entre seus leitores, foi protagonista da frente cultural que se estabeleceu no país após o golpe de 1964, mesmo quando esteve no exílio. Fez parte, portanto, daquela maravilhosa (e relativa) hegemonia cultural de esquerda nos anos de enfrentamento da ditadura civil-militar e de busca por caminhos para a ainda viva utopia da revolução brasileira.

Cabe ressaltar a trajetória de Leandro Konder como professor. Tardio no início de sua vida docente, foi um dos últimos mestres de conhecimento enciclopédico de que temos notícia. Suas aulas enchiam auditórios e eram disputadas por pequenas multidões. Era adorado pelos alunos, respeitado pelos pares, e sua sabedoria povoava os ares das instituições em que atuou, no Rio de Janeiro. Konder segue sendo referência de muita gente nas atuais gerações. Sua obra atravessa o tempo e define lugar na história das ideias de resistência no Brasil.

Eu sou grato por ter Leandro Konder como norte em minhas atividades intelectuais. Pude conhecê-lo pessoalmente e ser testemunha de sua gentileza, de sua generosidade. Era um homem raro, daqueles que fazem falta só de ser lembrados. De minha parte, a “dialética” (modo de encarar o mundo peculiar ao marxismo que ele ajudou a renovar) seguirá viva na batalha das ideias. Espero estar à altura de tão árdua missão.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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