Quando este texto for publicado, na quarta-feira (20), estarei no olho do furacão de um processo de mudança. Perdido entre caixas e mais caixas, é provável que eu esteja em busca de um par de tênis, uma camiseta e uma calça. Antes disso, terei suado para encontrar minha caneca de café, um pacote de biscoitos, sabonete e toalha limpa.

Mudei-me umas cinco vezes. É pouco, se comparado a alguns colegas e familiares que vivem empacotando pertences e carregando caminhões. Optei, assim que foi possível, por fincar raízes e ter uma vida estável. Sou desafeito a rupturas drásticas na vida pessoal. Digo até que, nesse aspecto, sou conservador. Apetece-me saber onde estão minhas coisas, qual o caminho para o trabalho e o de volta para casa. Além disso, admiro a vida comunitária: aprecio contatos permanentes, restaurantes favoritos perto de casa, um lugar determinado para caminhar, uma mesma mesa sobre a qual escrever.

Desta vez me vi forçado à mudança. Gosto do apartamento onde ainda estou (escrevo na noite de domingo). Ele me satisfaz. Mas meu filho, aos dezessete anos, cresceu muito, ficou folgado e requer mais espaço para, digamos, esticar as pernas. Os livros, felizmente, também se multiplicaram: já passam de dois mil e exigem novas estantes. Fora isso, penso que a vida incorpora necessidades de modo incessante – a família deseja expandir horizontes, conquistar bem-estar, melhorar a vista da sacada. Só quero crer que seja a minha última mudança de residência.

No fundo, sou feliz porque vivo em Londrina, e no pedacinho da cidade que mais amo. Detesto os bairros da moda, não caio nas ciladas da especulação imobiliária, nem pleiteio viver entre a burguesia falida e as pseudocelebridades. Prefiro cultivar minhas orquídeas no centro da cidade, peregrinar pelo Calçadão, descer até o Zerão para arejar as ideias e botar o corpo para se movimentar. Deus me livre cair na tentação de investir o que nem tenho num imóvel metido à besta só para arrotar peito de peru enquanto ainda me alimento da velha e boa mortadela defumada. Como disse, sou conservador quando o assunto é o ritmo da vida e a fidelidade à minha visão de mundo.

Sou daqueles que gostariam de morar em toda cidade para a qual viajam. Já quis viver dentro e fora do Brasil, em cidades pequenas e grandes metrópoles. Tive minha fase campestre, meu momento nordestino, minhas fantasias latino-americanas. Mas é de Londrina que gosto de verdade. É aqui que redescubro todos os dias o sentido da minha passagem pelo mundo; é aqui que dou aulas e compartilho as coisas que aprendo; é aqui

que conheci as pessoas que mais amo, as paisagens que me encantam e as possibilidades que me alimentam.

Londrina tem a UEL (que eu amo mais do que a mim mesmo) e um céu azul de invejar arcanjos. É claro que tem defeitos também. Penso em dois: está longe do mar (cenário que sempre me reanima) e abriga uns tresloucados de extrema direita que envergonham a imagem da cidade no Brasil. Nada nem ninguém é perfeito. Estou de mudança para seguir sendo eu mesmo.

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.