Imagem ilustrativa da imagem A era da psicopatia
| Foto: IStock

Em momentos delicados da história, em que sentimentos de confusão impedem tomadas inteligentes de decisão, insurgem-se discursos de transparente psicopatia. Segundo definição do Dicionário Houaiss, a psicopatia se caracteriza por graves distúrbios mentais e comportamentos antissociais, constituindo indivíduos incapazes de elaborar juízos morais, exercitar empatia, acometer-se de remorso ou demonstrar compaixão. No limite, o psicopata é a vaidade elevada à enésima potência. Suas atitudes, desprovidas de sensibilidade e razoabilidade, negam a experiência histórica, atropelam o bom senso e rechaçam o conhecimento científico.

No mundo todo, em escala crescente, lideranças com claros sinais de psicopatia governam grandes nações e dirigem complexas redes de negócios econômicos. Em suas mãos, o destino de milhões de pessoas parece fadado à desgraça. Teimosos e estúpidos, os psicopatas do populismo do século 21 adoram mantras e frases feitas, seguem gurus cujas “ideias” são puro escárnio, estimulam a beligerância generalizada e apostam tudo na criação de um mundo à sua imagem e semelhança, ou seja, hostil e ignorante.

O historiador israelense Yuval Noah Harari, cuja lucidez tem provocado grandes alívios no debate público internacional, enfatiza que a “mente populista” nega a cooperação e endossa a competição. Ao mesmo tempo, os “neopsicopatas” sugerem, no lugar da transparência, o mistério e a mentira, promovendo o isolamento, em vez da abertura de fronteiras. Nesse sentido, arriscam-se em discursos de ódio e se afastam, definitivamente, das práticas e expressões de solidariedade. A psicopatia, portanto, rege a cabeça de várias lideranças globais, que percebem, em tudo que não seja espelho ou caixa de ressonância, inimigos a exterminar.

A psicopatia contemporânea alimenta-se do nacionalismo, da obscuridade religiosa, de barreiras contra as imigrações e de sanções ao “globalismo” antipatriótico. Embora alguns de seus adeptos e correligionários se digam “liberais em economia” e adorem o epíteto de “conservadores nos costumes”, não são uma coisa nem outra. Conservadores tecem imensos laços de reciprocidade para preservar suas tradições e conquistas civilizatórias, enquanto os súditos da atual “psicopatia-em-chefe” amam o conflito e o acirramento de posições em prol da barbárie. Liberais, por sua vez, não existem pela metade: ou são argonautas da liberdade, em termos amplos e socialmente responsáveis, ou não são liberais.

Para escapar ao espectro da psicopatia que ronda o mundo, será necessário superar o vazio das ideias que interrompe o diálogo e a cooperação entre nações, diferentes grupos humanos e indivíduos. A pandemia do coronavírus impõe-se como um divisor de eras: antes e depois da estupidez que preferiu o autoritarismo à democracia, a histrionice à sobriedade, o “eu” ao “nós”, a opulência de alguns à miséria de quase todos.

Uma nova ordem mundial, que certamente está sendo esboçada no desejo de milhões de seres humanos, deverá ser mais cosmopolita e pluralista, mais cooperativa e humana, amante da cultura, da educação, do bem-estar geral. Poderá ser, portanto, em oposição à atual era de psicopatas, um tempo permanente de paz, união e ilimitada solidariedade.