O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa registra vários significados para o substantivo masculino “sentido”. Dentre eles, o mais interessante é aquele que empresta à palavra a ideia de meta, objetivo, razão de ser. Pensei nisso quando relia crônicas de Frei Betto sobre a educação, publicadas no livro “Reinventar a vida”. Duas das crônicas servem para esta reflexão – “A construção do sentido” e “A escola dos meus sonhos”.

A educação deveria inspirar a produção de sentido. Para tanto, disciplinas como Sociologia, Filosofia, Artes e Literatura deveriam ser enaltecidas, a fim de superar o pragmatismo e estimular a reflexividade. Por meio dessas disciplinas, a juventude entra em contato com os alicerces da ética e do altruísmo, afastando-se do individualismo e de um modelo de vida baseado no consumo fácil de mercadorias. Infelizmente, destaca Betto, essas “matérias” produtoras de subjetividade e riqueza espiritual vêm sendo ameaçadas constantemente pelos burocratas da educação, os quais, exatamente por serem burocratas, nada entendem de educação.

Ao longo da vida, trocamos as “lentes” com as quais observamos a realidade. Quais valores foram, no decorrer do tempo, fortalecidos? Que tipo de matéria-prima educou nossos “sentidos” na trama da vida? Perguntas como essas são refeitas a cada desafio imposto pela história – e toda vez que nos vemos diante da urgência de fazer escolhas. A vida deve ser experimentada em todas as suas dimensões, em cujo movimento aprimoramos o sentido escolhido para nos definir.

Na escola de seus sonhos, afirma Frei Betto, a vida seria teoria e prática, ação e contemplação, amor e solidariedade. Todos esses sentimentos atuam conjuntamente na produção de um sentido para a vida. Na escola de hoje, no entanto, forma-se gente pelo meio, incompleta, incapaz de ver no outro um complemento de si mesmo. A escola deveria, pois, promover trocas de sentido com a vida que se faz fora de seus domínios, dialogando com toda a sociedade e abrindo seus portões para a vida que há em sua exterioridade. Sem tabus, os mistérios da vida seriam enfrentados com respeito, curiosidade e desejo de desvendamento. Laica, democrática e republicana, a escola seria um espaço para todos, independentemente de (ou graças a) toda diferença.

A escola seria, então, um ponto de encontro para as inúmeras instituições que regem a sociedade. Mais do que uma transmissora de conteúdos prontos, a escola faria de seus dias uma grande festa de produção do sentido, arriscando-se por caminhos tão diversos quanto necessários, como, por exemplo, os números da economia, os segredos da boa nutrição, o bem-estar físico, a amplitude das religiosidades, as lições de cidadania, o encontro com a grande arte, a beleza literária, a sensibilidade poética. A escola não seria apenas um momento da vida, mas, sim, a incorporação de toda a vida e seus variados momentos.

Frei Betto é um escritor incansável, autor de dezenas de livros. Sua escrita é generosa e permite muitas reflexões sobre a prática da vida e os caminhos da utopia. Fica aqui o convite para conhecer sua obra e um novo jeito de desvendar-se a si mesmo.