Está bem longe de ser novidade abordar os problemas inerentes às chamadas redes sociais. Virou mantra afirmar que elas reúnem gente obtusa, colaboram na disseminação de notícias falsas e entusiasmam comportamentos extremistas. Ainda mais interessante e verdadeiro do que isso é a constatação de que esse enorme abismo no interior do qual permanecemos em queda livre se vincula à missão das famigeradas “big techs” proprietárias das redes e de boa parte de nossa intimidade cada vez mais virtual.

Não pretendo entrar no debate sobre a regulação das redes sociais. Apesar de julgar necessário estabelecer os meios pelos quais elas devem conviver com a democracia em sociedade plurais, a ideia aqui é a de refletir com algum cuidado sobre por que nos envolvemos exageradamente com a maquinaria virtual. Das redes que expõem as particularidades de nossa singularidade à inteligência artificial (IA) que promete realizar aquilo que não conseguimos sozinhos, caminhamos para a encruzilhada do pensamento crítico, para a banalização da criatividade individual e coletiva, para novos enquadramentos da liberdade de ser tão somente humanos.

Abdiquei das redes sociais há alguns anos. Ensaiei retomadas – algumas bem recentes – e até permiti tentar me convencer do contrário, ou seja, de que elas poderiam representar algo de valioso em minha vida. Não deu. Além do fato incontestável de que tudo na internet nos faz desperdiçar tempo e energia a troco de quase nada, enxergo veleidades desnecessárias nesse mundo de palavras vis, imagens santificadas e pura apologia do efêmero. No final das contas, saímos menores desses ambientes, sacudidos pela lógica atroz da mercantilização da vida e pela vitória do consumismo sobre todos os demais tipos de ideal.

Não nego que muitos contatos me eram ricos. Acompanhava o trabalho de gente rara, de pessoas iluminadas, de escritores, artistas e intelectuais que me inspiram de verdade. A perda dessa relação – ainda que distante e marcada pela frieza intransponível da tela – trouxe prejuízos, sim. Diante dos ganhos, contudo, as perdas podem ser relativizadas. Não há, no mundo virtual, conquista que seja imune às alegrias disponíveis apenas na vida vivida, na dimensão concreta da nossa existência cotidiana. Nenhuma paisagem on-line tem paralelo com suas equivalentes no cortejo palpável da existência. É no contato direto com o mundo que nos humanizamos, abrindo portas para o autoconhecimento e a criação de laços solidários efetivos. Isso vale para beijos, abraços e todas as formas de amar – e vale também para os múltiplos aprendizados e partilhas presenciais, com aroma, sabor, latitudes e altitudes.

Fora das redes sociais, permito-me pensar sem lacrações, sem agressividade, sem disputas egóicas e anônimas para saber quem é mais irrelevante, menos inteligente. Deixo-me conduzir pelo equilíbrio, pela sobriedade, pela certeza de que a realidade é complexa, sinuosa, inesgotável. E caminho mais, brinco, sorrio, atendo à beleza das flores e gentes. Leio bastante, escrevo, curto a cidade e a arte. Vivo. Nada mais.

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