É imperdível a leitura do livro “Democracia na periferia capitalista”, do cientista político Luis Felipe Miguel, lançado pela Editora Autêntica. Trata-se de obra capital para entender a crise pela qual passa a democracia contemporânea no Brasil e no mundo. Sem enfrentar as grandes desigualdades sociais, admite o autor, a democracia será sempre frágil e imprecisa, vítima de toda sorte de golpismo.

A chave de compreensão das sociedades modernas passa pela relação intrínseca entre democracia e igualdade. Luis Felipe Miguel aposta, então, no enfrentamento dos abismos que separam ricos e pobres, homens e mulheres, brancos e negros – e tantas outras interfaces – como meio para a verdadeira democratização das sociedades atuais.

Após uma releitura histórica da ideia e da prática democráticas, o livro investe suas melhores energias na análise do caso brasileiro, principalmente dos últimos 30 anos.

Imagem ilustrativa da imagem À beira do abismo
| Foto: iStock

Com o triunfo da antipolítica (o mundo dos gestores privados da coisa pública) e a ascensão competitiva da extrema-direita, o pacto implícito da Constituição de 1988 se esgotou, e com ele o advento da Nova República. Se o passado recente do Brasil se costurou por uma conciliação capenga entre as forças democráticas, o presente já não pode dizer nem isso.

Para além da apatia e do desrespeito, são benfazejos nos espaços públicos o ódio à diferença, o pouco-caso diante das questões cidadãs e um certo tom blasé ante as necessidades das populações mais vulneráveis. Assim, esgarça-se o tecido social e desfaz-se a trama da solidariedade coletiva, itens sem os quais não há democracia que resista.

Luis Felipe Miguel elege sete pontos a enfrentar a fim de revitalizar a democracia brasileira, tornando-a possível como modelo de gestão da esfera pública e, também, como valor capaz de orientar a vida dos sujeitos em suas dinâmicas particulares.

O primeiro e o segundo deles tocam em instituições historicamente avessas a performances democráticas: os militares e as polícias. Sem torná-las submissas ao poder civil, afastando-as de pressões eleitorais, a democracia agoniza. Ademais, é preciso predispô-las a uma cultura menos hostil às manifestações políticas da vida democrática, da qual elas são parte, não proprietárias.

O terceiro ponto é o delicado assunto da democratização das mídias. Com grandes conglomerados familiares monopolizando a informação, a democracia se fragiliza e perde vigor. Ao lado do quarto e do quinto pontos – a reforma política necessária e a liberdade do Estado em relação ao sistema financeiro –, tem-se o epicentro das lutas políticas a travar em nome de uma sociedade mais igualitária.

O sexto e o sétimo ponto também são convergentes: a laicização total do Estado e a primazia política da questão ambiental. Ambos os temas estão interligados na vida democrática que se deseja erigir, mais justa, fraterna e, enfim, humana.

O livro, frisando, é fundamental para essas reflexões à beira do abismo.

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