Esta é a coluna de número 200. Em pouco mais de quatro anos “A cidade futura” vem debatendo publicamente ideias e impressões da realidade, às vezes, pelo caráter surreal da vida, apostando na ficção ou em pequenos ensaios de realismo mágico.

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De uma coisa eu sei: nunca me furtei a escrever sobre sentimentos verdadeiros de inquietude, de indignação ou de esperança. Compartilhei receios, certezas e constatações que, em geral, estavam no calor dos acontecimentos. Em muitas oportunidades, preferi recorrer à literatura, à música ou ao cinema para “tocar” a vida e provocar reflexões. Se eu levar em conta a boa quantidade de palavras generosas que recebo semanalmente dos leitores, sou tentado a crer que estou no caminho certo.

É claro que existem mensagens agressivas e recheadas de ameaças. Recordo uma – anônima, óbvio – que me dizia para ter cuidado ao atravessar a rua, insinuando que alguém poderia estar à espreita para me atropelar. Às palavras de ódio desse tipo (felizmente, bem poucas) nunca respondi nem jamais responderei. Um bom debate público começa pela declaração de respeito mútuo entre os interlocutores. Sem isso, estou fora.

A maravilha de chegar às duzentas edições da coluna é rememorar os momentos decisivos dos afetos positivos. Recebi abraços de gente na rua, na fila do banco, em restaurantes, na sala de aula, em livrarias, na rodoviária, em inúmeros lugares e nas mais diferentes ocasiões. Sou grato a toda essa gente que faz de “A cidade futura” um instante semanal de suas vidas.

Venho me empenhando para não rebaixar a inteligência dos leitores e, ao mesmo tempo, incitá-los ao pensamento mais crítico. Como me ensinou Hannah Arendt, não existem pensamentos perigosos; o ato de pensar, em si, já é muito perigoso. E com a pensadora alemã também partilho a ideia segundo a qual todo nascimento traz à luz uma novidade, um ar de grandes expectativas; por isso, escrevo também para as gerações que ainda estão por vir, cioso de que amanhã seremos, como mundo e gênero humano, bem melhores.

Outro motivo que me deixa bastante orgulhoso com esse número 200 é a convicção de que defendi minhas posições sem proselitismos, isto é, sem querer impor minha visão de mundo aos leitores. Da tradição liberal reconheço que não há uma única maneira de pensar e agir. Defensor das pluralidades, dirijo-me sempre a um leitor múltiplo, que pode ter qualquer fé, qualquer tonalidade partidária, qualquer perspectiva teórica. A condição básica para que conversemos é o respeito à diversidade, bem como a crença entusiástica na democracia. Sem democracia, aliás, a coluna nem poderia existir.

Rogo que a coluna tenha mais 100, 200, 300 edições. Confesso: não é fácil. É difícil recortar um tema da realidade, é exigente a tarefa de escolher bem as palavras, é de altíssima responsabilidade não ser breve num mundo que requer permanências, projetos, visões de futuro. Ainda assim, prometo que irei persistir na caminhada, desenhando, para todos,um arco-íris para embelezar a caminhada.