Em sua longa vida de 88 anos, Ursula Kroeber Le Guin publicou muitas obras em variados gêneros literários, além de escritora, ela foi poeta e editora literária, mas sua obra mais famosa, lançado em 1969, ‘A Mão Esquerda da Escuridão’ carrega um legado na ficção científica. O jornal The New York Times considerou Le Guin a maior autora de ficção científica viva, em 2016, dois anos antes de sua morte.

Ao lançar seu romance mais famoso, a autora já tinha publicado vários contos e outro romance, mas foi em 1969 que a fama veio, principalmente no meio da ficção científica. No século XX, este gênero literário estava crescendo, reflexo das sociedades entre e pós-guerra, dos movimentos sociais e do avanço científico tecnológico.

Quando o romance foi lançado, nomes como H. G Wells, Phillip K. Dick, Ray Bradbury e Isaac Asimov já eram conhecidos e a ficção científica crescia cada vez mais no gosto popular e estava sendo cada vez mais valorizada por conta do cinema, mas ainda assim, na literatura foi um gênero que prosperou desde seu início, principalmente entre os leitores mais jovens. Embora seja sabido que o gênero se desenvolveu no século XX, muito se é discutido sobre onde a ficção científica teve início.

Embora alguns romances flertassem com o gênero, foi apenas em 1818 que Mary Shelley misturou o uso da tecnologia e conhecimento científico da época para a transformação da natureza ou de situações naturais, quando o dr. Viktor Frankenstein criou o seu monstro. Desde então, o gênero é predominantemente masculino, mesmo em seus subgêneros e ‘A Mão Esquerda da Escuridão’ se manteve nesses 50 anos, como uma das obras mais importantes da ficção científica no mundo inteiro.

Segundo o escritor de fantasia, Neil Gaiman, “a melhor ficção especulativa despoja a mente e mostra o familiar de um ponto de vista que o leitor não tinha experimentado antes. A Mão Esquerda da Escuridão desnuda suposições de gênero tão comuns em 1969 que ninguém as notava [...], é um clássico porque destrinça nossas suposições enquanto conta uma história e nos faz nos importarmos com as pessoas nela, e porque Le Guin é sempre elegante e precisa em seu texto. Ela escolhe as palavras corretas e tudo o que temos que fazer é ler e confiar nela”.

O romance conta a história de um agente terrestre, tentando fazer um tratado político interplanetário, em ambiente desconhecido, conversando com estrangeiros extraterrestres, em um planeta de temperatura hostil, no qual a população andrógina desafia as convenções humanas de gênero. Em plena Guerra Fria, Le Guin criou uma história sobre acordos políticos, políticas públicas, dinâmicas de poder e suas consequências na população. Ao abrir o livro, o leitor acompanha Genly, o enviado da Terra a Gethen, uma outra galáxia. Passando pelo planeta Inverno, ele é obrigado a encarar seus maiores preconceitos e tentar convencer líderes a se juntarem a esse grande acordo interplanetário para comércio e livre trânsito, exatamente 20 anos antes da queda do muro de Berlim e o início da globalização como é conhecida hoje. O romance de Le Guin é cheio de aventura, naves espaciais, temas políticos relevantes até hoje, discussões desconfortáveis sobre os preconceitos humanos e os limites do clima. Sua obra perdurou meio século e será sempre lembrada entre as grandes obras de ficção científica da história da literatura.

No Brasil, os livros da autora são lançados pela editora Aleph e ‘A Mão Esquerda da Escuridão’ já está em sua terceira impressão.