Em 2019, é indispensável ler Chimamanda Ngozi Adichie
A guerra, as diferenças raciais, feminismo, a cultura africana e a rejeição da negritude são alguns dos assuntos abordados por uma das mais importantes escritoras contemporâneas
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 06 de agosto de 2019
A guerra, as diferenças raciais, feminismo, a cultura africana e a rejeição da negritude são alguns dos assuntos abordados por uma das mais importantes escritoras contemporâneas
Maísa Carvalho
Chimamanda Ngozi Adichie é uma das mais importantes escritoras da atualidade, além de falar de assuntos importantes, ela fez da literatura nigeriana destaque no mundo todo. Com seu mais novo ensaio prestes a ser lançado “O Perigo de uma História Única”, é importante relembrar que sua literatura é necessária para entender o mundo de hoje e desenvolver a empatia que só a literatura proporciona.
Os livros e a ficção de Chimamanda podem não ser tão explícitos como os pequenos ensaios “Sejamos Todos Feministas” e “Como Criar Crianças Feministas”, mas todos abordam temas pesados e complexos, que envolvem cenários universais e preocupantes até hoje na sociedade. Ela trata em seus contos e romances de maneira mais sútil e ao mesmo tempo visceral alguns problemas que incomodam até hoje.
Em seu romance de estreia, “Hibisco Roxo”, os temas principais são o amor e o amadurecimento. O leitor acompanha uma família que apesar de raízes fortes nas tribos africanas, negam sua negritude para adotar o cristianismo e uma vida mais próxima aos países colonizadores por vontade do patriarca conservador e autoritário. Essa violência simbólica (e, em momentos, física) tão internalizada é representada na família, principalmente nas crianças, que quando têm contato direto com as crenças e rituais africanos, se encantam e se assustam, na mesma proporção. O livro trata também da violência doméstica e do amor imensurável que uma família pode ter, além é claro, das lutas sociais do povo da Nigéria e da diferença de classes em um país onde a pobreza domina e o governo é quase inexistente.
Já em “Meio Sol Amarelo”, é impressionante a maestria que ela usa na narrativa para conseguir com que a história da Guerra Civil nigeriana seja apenas um detalhe nas vidas das personagens, que são claramente afetadas pela situação e mesmo assim, obrigadas a lidar com seus dramas internos. A violência, o medo, o descaso governamental e as diferenças religiosas e ideológicas são o destaque do romance que arrebata o leitor.
“Americanah”, assim como alguns contos de “No Seu Pescoço”, falam da extrema dificuldade de ser africano fora da África, principalmente nos EUA, onde ser negro já é difícil, ser negro da África, é pior ainda. Ela trata do abandono da cultura própria em busca de uma vida melhor, em um lugar onde é preciso esconder suas origens não apenas pela língua, mas o jeito de vestir de dançar e até na comida.
A autora é uma mulher corajosa, que não tem medo de expor suas ideias e falar abertamente sobre o feminismo e racismo de maneiras incômodas e provocantes. É uma das vozes de sua geração e, aos 41 anos escreve de maneira única, sincera e brutal, o que a faz ser aclamada mundialmente pela crítica e pelos leitores.
A ficção de Chimamanda incomoda porque é real, é palpável, incomoda porque é fácil enxergar essas situações absurdas no nosso país, no mundo todo. Em tempos difíceis nos quais o conservadorismo está indo muito além de valores pessoais e se espalhando para o espectro político social e de fato trazendo medo às minorias, livros que demonstram de maneira tão brutal a experiência de vários personagens tão palpáveis, podem trazer ao leitor mais indignação sim, mas também mais empatia para tentar entender o mundo pelos olhos de quem mais sofre.