O entendimento do STF sobre crime eleitoral já beneficiou o ex-senador Lindbergh Farias. Portanto rolou. Já não se pode dizer o mesmo do pedido de CPI contra o Judiciário, que a bancada paranaense inteira do Senado assinou. Mesmo admitindo que há impedimento constitucional para a ação, o senador Flavio Arns entende que o fato abrirá oportunidade para debater competência e relações intrapoderes. Pelo jeito o que se pretende é submeter a guerra entre poderes a uma espécie de jogo da verdade, posto que mesmo nele haja, como no pôquer, o risco de blefe. O que não pode é manter-se o clima atual de lagoa parada com todos os seus agentes temendo revolver o seu fundo.

Excesso de constrangimento, até compreensível em se tratando de questão delicada e capaz de aprofundar o quadro de anomia para o campo institucional, não leva a lugar algum e até gera uma catatonia entre poderes. Tem que rolar alguma coisa, mesmo com riscos.

Obstruindo a lei

Depois desse caso envolvendo o ex-governador Beto Richa em comprovada (via depoimentos e gravações pessoais) ação obstrucionista judicial no caso da “Quadro Negro”, que o levou à prisão pela terceira vez, é de pensar na extensão da medida que o beneficiou pelo STF e STJ na questão do pedágio relativamente ao “salvo-conduto” a impedir qualquer constrangimento. Se em liberdade é capaz de praticar tantos atos no sentido de destruir provas, como alegam o Ministério Público estadual e a justiça paranaense nas provas colhidas nas delações e em gravações pessoais, há um forte respaldo aquilo que criminalistas arguem relativamente às prisões prolongadas aplicadas como sistema na Lava Jato: Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, se não ficasse na prisão durante tanto tempo, certamente haveria menos provas contra ele até porque foi apanhado com tratamento privilegiado em Bangu.

Vale tudo

Se a CPI da tal “Lava Toga” rompe regra constitucional básica e o mesmo se dá com a medida adotada pelo STF e aos cuidados do ministro Alexandre de Moraes a pretexto de investigar a origem e desdobramentos de campanhas contra magistrados tudo tende a revelar o mergulho das instituições na anomia, falta de referenciais básicos. Como esperar que num cenário desse porte possamos aspirar reformas como a da previdência. Resta um argumento: o de que somos um país de milagres como já somos, como sugeriu Belmiro Valverde Castor Jobim, o nosso derradeiro pensador, interpretados e olhados apenas por profissionais.

Sincronia

Nunca Brasil e EEUU andaram com tanta sincronia. É verdade que o sentimento nativista sempre esteve presente, o que não ofuscava a rigor o relacionamento, embora o uso de bravatas antiimperialistas. O país, por seu presidente (Getúlio Vargas), demorou para apoiar os aliados na segunda guerra, mesmo sob ataque de submarinos alemães (aliás os conspiratórios achavam que esses incidentes eram provocados pelos yanques) e acabou se acertando em troca de algumas vantagens, um escambo entre Volta Redonda e dois aeroportos a operações militares, o de Afonso Pena e o de Natal. Os mais afinados com os norteamericanos sempre foram muito criticados como se deu com Otavio Mangabeira, uma das expressões do parlamento nacional, ao beijar a mão de presidente daquele país.

Jair Bolsonaro inovou no sentido da maior vinculação e também no estilo (o apego às redes sociais na campanha de ambos) de Trump, infletindo à dextra como nunca e nessa condição figurando como estrela na constelação mundial da direita populista. Se vamos ganhar com isso não se tem certeza, mas o fato elementar é que estratégia e logística do Itamarati foram radicalmente mudadas na doutrina e na praxis.

Pacote travado

O pacote anticrime do ministro Sergio Moro foi travado, semana passada, pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, ao determinar a criação de grupo de trabalho para examiná-lo juntamente com outras duas propostas correlatas que lá tramitam. A comissão terá três meses para deliberação, o que suspende a sua tramitação. Mais uma derrota do ministro, dentre as muitas que vem sofrendo no Judiciário.

Ex-governadores

Na audiência pública nesta quarta (20) pela manhã da Comissão de Constituição e Justiça sobre o fim das aposentadorias de ex-governadores ficou claro que o tema não é pacífico, apesar do seu alto significado moral para um momento em que a maioria das pessoas tende a perder benefícios com a anunciada reforma. Teme-se inevitável judicialização do processo e há uma ala na defesa de que isso passe a valer daqui para a frente. O assunto já foi mais empolgante e decidiu a derrota de José Richa no primeiro turno. O beneficiário do feito, Roberto Requião, mais tarde, também se aposentou com aquilo que condenava. O autêntico foi Alvaro Dias, então governador, que fez campanha contra a aposentadoria para eleger Requião e não se beneficiou da prebenda

Folclore

A briga intrapoderes tende até a gerar novidades como na maiêutica de Sócrates, o parto da verdade que vem do conflito, choque dialético. Resta saber se há um tipo de pôquer em que todos blefam.