É em cenários como o que estamos enfrentando que as montagens ideológicas são profundamente testadas: o papel intervencionista do Estado se torna impositivo, ainda que estejam nos governos cultores extremados do liberalismo e adversários intransigentes do estatismo. Dá para lembrar o New Deal de Roosevelt, dos anos 30 nos Esteites, para enfrentar o clima da quebra da Bolsa e suas sequelas recessivas. Uma das ironias está em Galbraith, expoente do liberalismo, ter sido escolhido para controlar preços, algo herético na boa doutrina.

Quando o mundo é normal flui a ideia da escolha do possível, o quanto mais próxima, do desejável. Numa situação pandêmica o emergente impede avaliações, as funções até assistenciais do Estado se tornam mais exigentes e reflexões ideológicas, ainda que sempre válidas, perdem o sentido. Critica-se muito o presidente por suas intervenções como as que distorceram palavras de um dirigente da OMS para favorecer suas ideias restritivas ao confinamento, mas o fato é que sua conduta contraditória aquece o debate.

Se virar é o rumo

O legislativo estadual aprovou linha de crédito para o governo socorrer empresas com R$ 35 milhões do Fundo de Desenvolvimento Econômico de pequeno e micro porte com fatura de até R$ 4,8 milhões anuais atendendo cooperativas e agroindústrias. Recursos virão do BRDE e da Fomento Paraná. Igualmente por unanimidade a proibição de corte de água e luz (Sanepar e Copel) na emergência. Da mesma forma que a prefeitura da capital, também a de Londrina, anunciou crédito, a juros mais baixos, a 50 mil micro e pequenos empresários e autônomos da ordem de R$ 60 mil para amenizar a situação. No processo as coisas andam como por exemplo a descentralização dos testes da Covid-19 antes limitados ao Laboratório Central e ora autorizados em favor do laboratório da Universidade de Londrina.

Ranking mórbido

Neste momento em que surpreende o fato de os Estados Unidos juntamente com a França superar os números de infectados e mortos pela Covid-19 da China e os de países europeus como Espanha e Itália, um registro da dengue espanta em relação ao Paraná em que caminhamos para superar 100 mil casos da doença: desde agosto de 2019 há 69 mortes confirmadas e o número de casos já ultrapassa 88 mil. Há 204.807 notificações em 364 municípios, 177 deles em epidemia. O Aedes aegypti é mais fácil de combater porque seus nichos são visíveis, estão nos fundos dos quintais.

No Brasil tivemos 201 mortes e 5.717 casos da Covid-19, o Paraná fechou março com 185 registros e três mortes. Londrina está com 2 casos e sua pesquisa por faixa etária aponta o maior número, a metade dos casos, entre 20 e 39 anos.

Folclore

Se Souza Naves não tivesse morrido, tanto a história do Paraná como a do Brasil teriam rumos diversos. Ney Braga não venceria o dirigente trabalhista e não faria a revolução que afinal tanto nos transformou. De outro lado há quem diga que Abilon de Souza Naves tinha força moral suficiente junto a Jânio Quadros para impedi-lo de renunciar. Aliás, foi o mineiro paranizado que fez Jânio disputar pelo PTB do Paraná como deputado federal mais votado em 1958, Ney ficou em segundo lugar e deu arranque para vencer em 1980.