Realismo fantástico

No Brasil, o realismo fantástico não é literatura, mas expressão do jornalismo que cobre o factual. Quando se discutia a metáfora de Bolsonaro, transfigurado em leão, atacado por hienas caracterizadas como a mídia, a OAB, a CNBB, o STF, a CUT, o PSL, e a esquerda, eis que aparece nas investigações no Rio sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco reunião de envolvidos no caso no condomínio em que mora o presidente e com alusão ao seu nome. Segundo informes a referência ao episódio apareceu bem antes e com a explicação de Jair Bolsonaro, que na data estava em Brasília na Câmara Federal. Nisso tudo uma estranheza pertinente: o processo corre em segredo de justiça e, como sempre no Brasil, temos o vazamento, como temos o mais piramidal de todos no Intercept Brasil em vias de, apesar de sua origem, ser tido como veraz e procedente na justiça.

Vargas Llosa, Gabriel Garcia Marques e outros gênios literários se espantariam com a versão jornalística da linha estética que criaram e reafirmada no cotidiano brasileiro.

Sinal positivo

Depois das alusões à leve melhora no mercado de trabalho e as boas reações da Bolsa e no dólar tivemos outra: o risco-país cai para o menor patamar desde maio de 2013, tempo do furor na rua. Como o indicador é, a rigor, termômetro da confiança de investidores, ora irrigada pela ação internacional de Bolsonaro, a interpretação mais lógica do fenômeno é que decorre de fatores objetivos e alguns psicológicos como a queda de juros, a aprovação da Reforma da Previdência e a trégua na guerra comercial entre EEUU e a China. A conjunção desses fatores levou o risco-país ao menor patamar desde 2013. Isso – essa consonância - é termômetro, informal é claro, da confiança do investidor, notadamente os emergentes.

Se houvesse agora uma das promessas de Paulo Guedes, de quem se espera o milagre, traduzido em mais empregos e menos burocracia, como essa tão debatida mudança no pacto federativo nacional como sempre, pelo menos nesse ordenamento, mais liberdade e menos Estado na economia, como é a nossa praxe. É claro, há o alertamento da revolta chilena, porém os números, os mais elevados de toda a latinidade, contestam a rapidez com que a ala de progressistas cantou uma derrota épica do conservadorismo. Apesar do desnível social o Chile é primeiro mundo como em passado distante a Argentina já foi.

A borra avança

O óleo nas praias do Nordeste, com um terço do litoral comprometido, continua avançando há dois meses, e estrategistas do Ministério da Defesa não sabem dizer se o fenômeno está no fim, as preocupações maiores do momento são a defesa do Parque de Abrolhos, "Abre olhos", tido como um dos maiores berçários da diversidade marinha. A borra chegou lá salpicada, mas até agora sem atingir o parque. Não deixa de ser irônico um país que saiu à frente de muitos na tecnologia da exploração de fundo do petróleo voltada ao manancial do pré-sal não ter desenvolvido ações contra catástrofes como essa, a maior agressão ambiental já sofrida.

Lula ganha

Estava marcada para ontem no TRF4 a análise do processo do sítio de Atibaia que poderia, em função da jurisprudência do STF, mais recente, anular a condenação de Lula. A defesa do ex-presidente pleiteou a suspensão do julgamento e o STJ, através do ministro Leopoldo Raposo, a concedeu. Isso amplia o clima de suspense para a próxima sessão do STF que irá decidir, isso em definitivo, a intrincada questão da prisão pós decisão de segunda instância. Há uma mediação do presidente Dias Toffoli no sentido de evitar a prescrição dos crimes, porém a bancada lavajatista, entre elas os três senadores do Paraná, não a aceitam como compensação pela derrubada da prisão em segunda instância. Há, aliás, um projeto do senador Alvaro Dias determinando que o prazo prescricional somente passará a ocorrer após o trânsito em julgado da decisão penal. Outro paranaense a destacar-se nessa direção é Felipe Francischini, presidente da CCJ na Câmara Federal, que quer votar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que autoriza condenação em segunda instância, e isso, se possível, até a semana que vem. Uma corrida contra o tempo.

Outra corrida

Uma inevitável luta de salvacionismos marca o momento brasileiro e a Câmara Federal quer sair à frente, e isso mais uma vez na CCJ, do Senado ou do governo (o pacote de Paulo Guedes pós Previdência), e através do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) com uma PEC que muda a regra de ouro. Isso se dá simultaneamente com o agito da equipe econômica. Quando há muitos salvadores o que se desbarata é a energia.

Folclore

A Agepar questiona concessionárias sobre nova suspeita de erro de cálculo no pedágio. Essa relação deveria ter sido, o tempo todo, pelo menos moderadamente conflitiva, o que não aconteceu, e facilitou tudo o que houve e que a justiça tem procurado resolver. Ela exige agora que as concessionárias enviem ao DER as planilhas de depreciação das propostas originais. Se a suspeita confirmar-se haveria um rombo bilionário, com possível ressarcimento a usuários.