Fala-se com frequência em incursões no parlamentarismo, sob a forma branca, em nossas práticas institucionais. Na verdade, a Carta de 1988 tem um hibridismo de origem com as investidas dos cardeais do PSDB na defesa do regime de gabinete. Se há um protagonismo extrapolado do Congresso, no papel dos presidentes das duas câmaras, existe em compensação a hipertrofia do Executivo e especialmente de Bolsonaro nas provocações diárias que faz a adversários, reais ou imaginários.

Uma greve petroleira, como a das últimas semanas, ora suspensa, é metabolizável, o que não se dá com essa de policiais militares do Ceará pelo fato de contaminar mais as corporações em torno de salários e representar um grave risco ao equilíbrio constitucional. Ao lado disso temos a arregimentação de vinte governadores em oposição, até aqui discursiva, ao governo central. Há um certo nível de bagunça e parece que não temos uma liderança forte para conter pulsões, de lado a lado, contra a democracia e obter avanços conciliatórios.

Cobrança

Sugere-se que o presidente estaria cobrando de Paulo Guedes, o superministro, crescimento de 2% ainda neste exercício, meta distante das indicações de agora no mercado, até aqui bem amarrado, no crescimento fraco e indicadores negativos no campo cambial. Há ainda aposta na competência do ministro e que segura ainda alguma expectativa de virada. Teme-se que haja pessimismo de empresários e investidores, apesar de o ministro ter assegurado que há plena condição de chegar na meta referida e até suplantá-la.

Há indicadores, nas práticas de gestão, que podem mudar inteiramente o quadro, como a redução de travas do Banco Central que poderiam injetar R$ 135 bi no mercado e em medidas outras como a do crédito imobiliário da Caixa Econômica Federal com taxa fixa de 8% anual. A aposta mais concreta é da melhora radical no mercado imobiliário, garantia de alta empregabilidade. Há ainda a considerar a lenda de que o ano brasileiro só começa depois do Carnaval.

Ouro negro

Regras para reduzir emissões de enxofre no transporte marítimo elevaram o valor do petróleo brasileiro, vendido sem desconto em relação ao Brent. Esse fator, segundo a Petrobras, teria contribuído para o lucro de R$ 40,1 bilhões. Menos poluente, o produto do pré-sal tem sido comercializado em valores mais altos. A maior utilização de refinarias foi em 2013 e que marcou também o maior prejuízo da área de refino da estatal. Diz o presidente Roberto Castello Branco "que a empresa, em vez de dar remuneração ao acionista, e o maior deles é o estado brasileiro, ficou dando dinheiro a banqueiro". Setores sindicais credenciados criticam a estratégia de concentrar esforços na exploração e produção e reduzir presença no refino e distribuição.

Confronto

Aqui, como em qualquer outro estado, discute-se o grau de letalidade nos confrontos com agentes de segurança, como vimos agora o presidente e seu filho senador questionarem o caso da Bahia, e temos o problema colocado pelas famílias de 36 pessoas mortas em situações suspeitas. O que se reclama é mais transparência nas investigações. Principalmente os protocolos de isolamento do local da ocorrência são mal observados, segundo o ponto de vista de promotores, para facilitar o andamento das perícias.