Como fator compensatório pela privataria de FHC, foram criadas as agências reguladoras com o fim de evitar distorções. O Paraná, a Lava Jato e ações complementares do Ministério Público estadual provaram que elas não funcionam, o que não impede que ratifiquem os aumentos de tarifa como se deu com a nossa ante a Sanepar, ainda nessa terça confirmado junto a deputados.

A decisão do TRF4 obrigando as concessionárias Viapar e Caminhos do Paraná a reduzirem suas tarifas do pedágio em 19,02% a 25,77%, ainda que sujeita a recurso, evidencia o não funcionamento da agência respectiva, a Agepar, que nada percebeu nem antes nem depois das delações premiadas, pelas quais o ex-governador Beto Richa e alguns dos seus aliados acabaram presos. Se tais agências foram criadas para sacramentar atos do governo era melhor que nem existissem para evitar o triunfo da hipocrisia, o elogio que a virtude presta ao malfeito.

Nossa agência levou tempo, um lapso hitchcokiano, para entrar em ação, e evidentemente era, se bem postada, uma pedra no caminho das propinas. Se os fatos se deram com desenvoltura no Paraná é de supor-se que o mesmo tenha ocorrido em outras concessões, mas o apelo à leniência, comprobatório da fraude, evidencia que a patologia tenha ganho capilaridade e da mesma forma que aqui as agências reguladoras falharam. Essa sentença do Paraná decorre da Operação Integração, que detectou rombo de R$ 7 bilhões nos contratos.

Morde e assopra

A dependência ideológica do guru Olavo de Carvalho não apenas do presidente Bolsonaro, mas essencialmente dos seus grupos mais radicais e supostamente doutrinadores, é um elemento de dialética interna como se vislumbrasse aí o governo e a sua contrafação. Com um linguajar pesado, o que sugere coragem e determinação, chama os militares de “cagões”, em permanente provocação, e ultimamente os petardos mais qualificados atingem o vice general Hamilton Mourão (PRTB) e isso por causa do seu empenho mediador que desagrada radicais e visto como traição. Dessa feita, os ecos panfletários do filósofo em suas gravações levaram Jair Bolsonaro, diante da reação da ala militar, a emitir nota tentando baixar a bola, reduzir tensões, mas como sempre reconhecendo a importância do olavismo em seu feito eleitoral.

Como se vê, pelos radicais, como um transtorno ao ponto de sugerirem seu impeachment e o de ministros do STF, o general fez um exercício de ironia e também de sutil provocação ao ideólogo: “Acho que ele deve se limitar à função que desempenha bem, a de astrólogo”. A referência é o fato de na trajetória intelectual de Olavo de Carvalho ter havido incursões ao ocultismo e à astrologia.

Vietnã rodoviário

Durante o feriadão caiu o número de mortes em acidentes nas rodovias: quatro no Estado e dois na região de Londrina. Parece até isso não corresponder com a imprudência nas estradas nos trechos fiscalizados que indicaram veículos acima da velocidade em 11.797 casos, numa proporção de dois por minuto. Foram flagradas ocorrências de 205 km/h.

Sonho sob risco

Belmiro Valverde Castor Jobim sintetizou no fim de sua vida numa obra educacional, o Educandário João Paulo 1º, em Piraquara, sua utopia pessoal em relação à educação como alavanca da igualdade numa democracia. A instituição, cujos frutos já colhidos evidenciam o acerto da orientação didático-pedagógica num bolsão socialmente deprimido, vive hoje sob ameaça de interrupção de suas atividades sempre fomentada por lideranças empresariais.

Vai ou racha

A tentativa para fazer andar a reforma da Previdência nos seus primeiros embates na CCJ era obstruída em parte pelo sigilo, não aceito pelo centrão e a oposição, sobre os pareceres que embasaram o projeto. Graças à mediação do presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM), foi anunciado para esta quinta, em acordo com o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, a liberação dos dados. Um mínimo de boa vontade e de composição é indispensável para que a matéria, tão delicada de decisiva, caminhe.

Na festa um sinal

Não há evidências de curto prazo para a recuperação da imagem dos políticos. Repetiu-se agora nas celebrações do tricampeonato do Corinthians o incômodo e malestar produzido pela presença deles na festa, o que irritou especialmente os atletas. Todos se recordam como isso começou nos agitos populares massivos de 2013 com a resistência dos manifestantes a faixas, emblemas, adereços e bandeiras de partidos, independentemente da sigla, o que se adensaria, a seguir, com as revelações da roubalheira na Lava Jato. Difícil imaginar o fim desse ciclo que pode bem transformar-se numa era. E isso não é bom para o Brasil. O problema está em encontrar uma forma de reabilitação, de como reciclar os seus agentes depois de tão forte desmistificação. É mais fácil reciclar o plástico, mesmo aquele no fundo dos oceanos. Exageros têm função corretiva e educativa.

Folclore

A presença de políticos irritou os jogadores na festa do Corinthians. Pode-se imaginar que tal não se daria com um dos seus torcedores mais simbólicos, o ex-presidente Lula, que festejou a conquista na solidão do presídio.