No olho do furacão
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Luiz Geraldo Mazza
Se há uma hora em que o engajamento político é inevitável é essa que vivemos agora. E é interessante ver o nível de envolvimento dos paranaenses, sua bancada na Câmara no exame do voto impresso (vinte favoráveis, sete contra) e na sessão da CPI com o líder do governo, Ricardo Barros. Bolsonaro obtém vantagem mesmo na derrota, já que é visível seu objetivo de suscitar as suspeitas que jamais comprovará contra a urna eletrônica e as sustentará até 2022, na linha do seu líder inspirador, Trump. Não é desprezível a soma de 228 votos, favoráveis à mudança, e que fundamentará novos ataques ao sistema. Aliás, embora configurando o atraso, essa marca, do antissistema, é o tom contestador e animado pela milícia digital.
A deixa da ida de Barros à CPI levou o Ministério Público Federal do Paraná a noticiar a ação de improbidade movida contra o líder do governo e sua esposa, ex-governadora Cida Borghetti, pelo exercício de tráfico de influência. Atuação do parlamentar paranaense levou por sua agressividade a CPI a ver-se na contingência de suspender a sessão tal o tumulto provocado. Esse tom contestatório pela insistência pode criar condições para uma invasão como a do Capitólio, com a diferença de que nos EUA não há clima institucional para tal tipo de aventura, como se viu. O risco maior no Brasil é a imaturidade de nossa vivência democrática, ainda aberta a aventureirismos primários. A CPI convoca Ricardo Barros agora na condição de investigado e pelo jeito isso o animará ainda mais a novas sortidas. Como se vê, a CPI não está com essa bola toda e mostra-se pouco arrojada para encarar situações adversas. E a sua disposição de indiciar o presidente Bolsonaro por charlatanismo vai ser encaminhada ao Ministério Público Federal, exercido por Augusto Aras, que dificilmente a acatará.
Loucura mórbida
O Rio de Janeiro já anunciou que fará o Réveillon e agora quem está entrando nessa é o Nordeste. A melhora no cenário da doença não justifica ainda flexibilizações. Aliás, uma das lições que estamos apreendendo é justamente a de que a cada flexibilização segue-se a escala patológica. O Senado acaba, por exemplo, de aprovar projeto de quebra temporária de patentes de remédios e vacinas, da mesma forma que a Anvisa aprova uso emergencial de novo remédio para pacientes da Covid, o regdanvimabe. Essas medidas mostram atualidade na reação, mas isso não elide o fato de que entre terça e quarta tivemos 1.123 óbitos e mais 35.788 infecções. Não é hora de baixar a guarda, posto que isso não seja suficiente para conter festeiros como os do Nordeste, que bolam réveillon para cinco mil pessoas e duração de cinco dias animados por Anitta e Wesley Safadão. Enquanto de um lado o hedonismo se sobrepõe, de outro temos estudos em andamento, como um da China sugerindo que a terceira dose da Coronavac aumenta resposta imune.
Debate
O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP reagendou o debate, que havia sido cancelado, sobre a hipótese de afastamento de um presidente devido a transtorno mental, para o próximo dia 26. A suspensão causou revolta porque tida como um ato de censura porque havia o temor de que a discussão resvalasse para a saúde mental do presidente Jair Bolsonaro.
Folclore
Secretários estaduais de Fazenda calculam que haverá um rombo de R$ 16,5 bilhões com a nova versão da reforma do Imposto de Renda com o corte de 1,5 ponto percentual na CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido), tributo federal aplicado às empresas. Confederação Nacional da Indústria, estados e auditores entregaram manifesto ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, por uma reforma tributária ampla. Sempre foi assim: anunciadas reformas são postadas em fórmulas parciais, mas são vendidas como se fossem amplas e suficientes e fica tudo na base do me engana que eu gosto.

