No limiar da ruptura
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terça-feira, 24 de agosto de 2021
Luiz Geraldo Mazza
Bolsonaro não faz pelos que o afligem o que fazem por ele: a prova é a coleção de pedidos de impeachment que Rodrigo Maia e agora Arthur Lira mantiveram represados na Câmara Federal. Ao pedir o impedimento do ministro Alexandre de Moraes e prometer fazer o mesmo com Luis Roberto Barroso, percebe-se que o presidente não é adepto da paciência e da aposta na acomodação. Há dezenas de pedidos de impedimento travadas para evitar o agravamento da situação e isso há muito tempo. Bolsonaro joga com seus seguidores para manter a toxicidade do cenário. E percebe-se que o feriado nacional de 7 de setembro pode se transformar no caos institucional.
A reunião dos governadores, muitos deles bolsonaristas, assume postura clara por uma saída democrática e no momento parece inviável a concórdia dos poderes, buscada semanas atrás. De qualquer forma há mais bombeiros do que incendiários, o que se não resolve o impasse abre um mínimo espaço para tentativas de pacificação.
Crises, qual a maior
Além da pandemia, temos a crise decorrente da marcha ascensional da inflação, a atrofia da economia (fica difícil na quadra atual imaginar o bom andamento das privatizações) e o desemprego assustador. Tudo é dimensionável, mas fica impossível o ranking do pior. A gasolina subiu 51% no ano e isso de cara encolhe o mercado do aplicativo. É impossível o otimismo nas previsões e 4.483 vagas no Paraná nas agências do trabalhador não autorizam entusiasmo e o que dá um pouco de ânimo é a queda de mortes e de casos da Covid-19: no Brasil 331 mortes, no Paraná 52 e 1.694 casos. Mas até aí há preocupações como o seguro de vacinas de R$ 24 milhões sem licitação e é alvo de análise do Tribunal de Contas da União, cujo contrato foi fechado com pagamento antecipado por consultores sem cargo do governo federal. Em São Paulo o liberou geral encheu praias, parques, bares, shoppings no primeiro fim de semana sem restrições. Essa precipitação lembra a de Minas com o estádio recebendo dezenas de milhares de torcedores para o jogo entre o Atlético Mineiro e River Plate. A consciência criou agora em SP o passaporte da vacina nos locais públicos. Aqui tivemos 2 mil pessoas flagradas em aglomerações e com a consequente interdição de 19 locais. Em Londrina um decalque da virada da vacina de São Paulo com 36 horas ininterruptas de imunização para atender o público jovem em 5,768 mil pessoas . O número diário de contaminações no município que estava em 150 na semana passada caiu para 85 no domingo.
Moradia
O programa habitacional de Ratinho Junior tem continuidade com a liberação do subsídio para entrada na casa própria abrangendo o atendimento a 2.371 famílias.
Fogo
Estamos vivendo o ciclo dos incêndios. O do Pantanal repete a destruição recorde do ano passado: desde o início do ano até sábado a maior planície alagável do mundo já havia perdido 261.800 hectares para o fogo, dimensão equivalente a dois municípios do Rio de Janeiro, o pior está por vir, já que setembro historicamente é o mês com mais focos. Em São Paulo, na região metropolitana, o Parque Estadual Juquery, em Franco da Rocha, teve 60% do cerrado devorado pelas chamas. E provocou chuva de fuligem que invadiu casas na capital.
Melhora
Alta na produção industrial brasileira mostrou crescimento pelo terceiro mês consecutivo em julho e a empregabilidade no segmento não cai há 13 meses, segundo a Confederação Nacional da Indústria. Houve aumento de 1,7 ponto em relação a junho e fechou em 53,7 pontos. Surpreende também a utilização da capacidade instalada em 71%, a maior para julho em oito anos.
Folclore
A Justiça de Brasília, 12ª Vara, rejeitou a denúncia contra Lula no caso do sítio de Atibaia. Foi refutada a denúncia contra os demais envolvidos. Não houve manifestação sobre o mérito das acusações e se o ex-presidente é culpado ou não de suposto favorecimento às empresas OAS e Odebrecht em troca da reforma do imóvel. Convívio de presidente com empresários clientes pode ser tudo, menos presunção de inocência.

