A pandemia do coronavírus, ainda que não esteja livre do contágio político (e isso é visível na insegura manutenção do ministro da Saúde ), é de tal ordem prioritária que fez esquecer outra endemia brasileira, a da corrupção, de vez em quando referida, como agora com o acordo da Ecovias em torno dos chunchos praticados ao longo dos 18 anos de governos paulistas do PSDB, incluindo seus presidenciáveis, de Mario Covas a José Serra e Geraldo Alckmin. Houve formação de cartel, propina e repasse de caixa dois e a empreiteira promete ressarcir R$ 650 milhões.

No auge da Lava Jato essa questão, a da corrupção, tomava conta dos debates e com o passar do tempo o ciclo punitivo foi perdendo força principalmente depois das revelações do Intercept Brasil e de exageros praticados que não afetavam a essência do processo, todavia a debilitaram. Se não houver indício de corrupção na crise atual já será um ganho.

Sequelas

O sismógrafo do Datafolha definiu algumas das sequelas da pandemia: 69% preveem que seus rendimentos cairão e 30% entendem que isso não acontecerá. Em março esses percentuais eram de 57% e 43%. Entre os pobres, com ganhos até dois salários mínimos, 73% acham que vão perder renda e os com rendimento superior a dez mínimos 67% admitem o pior. Entre os mais ricos o pessimismo bombou: em março 57% previam crise prolongada e na semana passada o bloco subiu para 71%.

Pendularismo

Tanto nos municípios como nos estados brasileiros tem havido algum gesto no sentido do afrouxamento das medidas de distanciamento, o que se dá também em nível internacional, como ocorreu no Japão, Singapura, Suécia e Holanda, que optaram por menor rigidez e acabaram retomando restrições. Assim, pois, esse pendularismo não decorre de pouco saber, já que é acionado pelos números de casos e mortes que recomendam a prudência. Num país com o tipo de federalismo que temos e com suas dimensões continentais a situação se revela complexa demais e traz consequências, como um abrandamento em cidades do interior acaba sobrecarregando cidades-polo como Curitiba, Londrina, Cascavel, Maringá, impactando o atendimento de alta complexidade. Louvável o esforço do Ministério Público na contenção da retomada de atividades não essenciais.

Lockdown

Não estamos distantes da hipótese de um lockdown em Curitiba, o impedimento total à circulação de pessoas. Segundo a secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak, ainda não é o momento para a medida radical desde que todos façam a sua parte no isolamento. Curitiba está com 205 casos confirmados, no Paraná 511, 4.962 descartados, 286 em investigação, 15 mortes. No Brasil há 13.717 casos confirmados, 667 mortos. Números não são seguros e tendem a ser maior, já que são testados apenas casos graves nos hospitais e há também os represados à espera de confirmação.

Folclore

Malhação de Judas poderia ser feita pela piazada contra a figura já tão conhecida e temida do coronavírus, se possível sem ajuntamento, porque aí o vírus levaria a melhor.