Derrota do fórum
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terça-feira, 12 de novembro de 2019
Luiz Geraldo Mazza
Derrota do fórum
Não só os governistas criticaram a decisão do STF, essa que soltou Lula e Zé Dirceu, mas os "garantistas" se postam como guardiões do texto constitucional. Perdeu a Lava Jato e ganhou a massa de criminalistas que estavam perplexos e sem rumo. Retoricamente vão dizer que sua postura foi missionária em defesa da lei e da Carta ameaçadas.
Essa questão vai perdurar enquanto Lula faz discursos, não enquadráveis no seu estilo de tradição, equilibrado e conciliador. Dá impressão que segue a linha inssurreicional de Gleisi Hoffmann, defensora permanente da Venezuela. Por sinal que o foro de São Paulo, a que tanto se liga, teve uma perda com a queda de Evo Morales na Bolívia e que Lula chama de golpe.
Lula pediu, em suas falas, que o povo seguisse a linha do Chile com a multidão na rua, o que ninguém, com um mínimo de senso, deseja. Algo como o alerta de Gleisi, imitação caricatural da La Passionária da Guerra Civil espanhola, quando houve a prisão de Lula com a advertência de que se isso ocorresse haveria mortes. Houve e deu em nada a não ser o acampamento velando o ex-presidente, o que acabou imobilizando a oposição no país. Pelo jeito Lula quer recuperar o tempo perdido e tem levantado a associação entre Bolsonaro e as milícias e assim vai acabar incluindo o presidente na trama que matou Marielle. O vale-tudo o admite. Agora pelo menos teremos uma barragem contra a direita, que pode também crescer na mesma direção do fenômeno que elegeu Bolsonaro. O clima está bom para que o engajamento seja generalizado e até prejudique o show de Roberto Carlos em Jerusalém, para onde o presidente queria (lembram?) levar a nossa embaixada de Israel.
A água de novo
Quando a retaguarda técnica do Tribunal de Contas recomendou a baixa das tarifas da Sanepar tivemos a impressão, que se mostrou falsa, de que haveria uma nova postura de órgãos aptos á controladoria relativamente às estatais. O que é mais produtivo do que promessas superficiais de privatização, bandeira também agitada por Ratinho Junior. Houve suspensão da alta e o aconselhamento para revisão e baixa. Pois bem, isso passou, o ordenamento se acomodou, a alta foi ratificada e, de lá para cá, tivemos mais duas. Houve no enfrentamento a afirmação crítica de que se atendia mais o acionista do que o usuário. Aliás, sob Requião houve também uma exagerada pressão contra a corporação de acionistas e que se refletia na tarifa deprimida. Precisamos mais zelo em relação às estatais. A Copel se habituou, depois de Lerner, que tentou vendê-la, a operar no mercado livre de energia, e agora Ratinho pretende que ela invista de forma prioritária no Paraná. A venda da Copel Telecom é tema para discussão.
Mais pacote
O governo lançou, além do pacotaço, nova medida para gerar empregos e no mercado formal. A medida chave, que será apreciada no Congresso, é a redução de encargos para contratação de jovens e pessoas acima de 55 anos não aposentadas. A desoneração é limitada para ganhos salariais até R$ 1.497. Compensação: isenção de 20% sobre a folha alusiva à contribuição previdenciária patronal. Depósito de 8% do salário no FGTS passaria a 2% e multa em demissão sem justa causa passa de 40% a 20%. Flexibilidade de um lado para contratar e de outro pra demitir.
Lema de Zema
O governador de Minas, Romeu Zema, é um liberal e não deixa por menos. Entende que a nossa Carta Magna assegura direitos demais e cobra poucos deveres. Ele tem um dos mais expressivos campos para intervir, pois Minas, embora a terceira em renda interna e no contexto, junto com o Rio, do Sudeste, o mais desenvolvido do país, está rigorosamente quebrada na perspectiva fiscal. A missão de encarar tal estado de coisas é dele, zebra da campanha eleitoral que levou 72% dos votos acoplado ao bolsonarismo. Sua bronca máxima é com o Estado paizão que até hoje ninguém conseguiu enfrentar como Paulo Guedes pretende.
O laranja
Temos um tempo de laranjices: como Bolsonaro não quer desgaste pessoal com o enfrentamento de Lula, escalou seu ministro Sergio Moro (bem mais palatável do que qualquer outra figura do governo) para enfrentamento das questões imediatas como a postura do STF na questão da prisão pós segunda instância e os ataques do lulopetismo à sua atuação como juiz. Lula aposta na declaração de suspeição de Moro no julgamento da segunda turma do STF ainda neste mês. Se o tribunal entender que Moro não foi imparcial a condenação do tríplex é anulada e o ex-presidente voltaria a se tornar elegível.
Moro cometeu o maior dos erros ao ingressar no governo e com isso virar político, que por sinal tem sido esnobado em várias questões por Bolsonaro, que no fundo o teme como potencial presidenciável. Com a degradação da Lava Jato ele é o mais atingido.
Folclore
Muita gente está deixando de valer-se do carro pelas vantagens dos preços dos que operam com aplicativos, em alguns casos atuando em grupos no sistema de lotação que baixa ainda mais os custos. Só falta agora o chio das empresas de ônibus com a perda de clientes. E isso não tem a ver com Paulo Guedes, mas não poucos enxergam na flexibilização melhora na mobilidade como se estivesse nos pacotes do ministro. Enquanto isso há mais de 20 mil carros operando em Curitiba e se ficam na rua negam as vantagens da mobilidade.