O Brasil tem na China o seu maior parceiro comercial, mas sua submissão diplomática aos EUA pode gerar tensões como essa provocada pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, aquele que pretendia ser o embaixador do país em Washington. Recriando a atmosfera da Guerra Fria, atribuiu ao Partido Comunista Chinês o bloqueio dos primeiros informes do coronavírus e fez a comparação com a postura da União Soviética relativamente ao acidente de Tchernóbil. Eduardo não é um qualquer, afinal exerce a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal, e a resposta chinesa foi fulminante, o que obrigou a chancelaria acentuar que aquela opinião não era do governo e levar o agressor ao pedido formal de desculpas.

Há efeitos políticos em desdobramento como o dos ruralistas, aliados de primeira hora do bolsonarismo, que não desprezam, até como beneficiários, da parceria que proporcionou US$ 65 bilhões em exportações no ano passado e por isso emitem sinais de desgaste do presidente na direita que o elegeu, incluindo aí o guru Olavo de Carvalho, que acusa Bolsonaro de viver aconselhado por generais e políticos medrosos e com isso não derrubar o sistema.

Essa suposta dimensão ideológica do governo, a de ter sido eleito para derrubar o sistema, é sustentada artificialmente, o que não constitui novidade experimental no Paraná e que teve um governo a declarar, com a máxima pompa, ter instalado aqui um bastião do socialismo bolivariano. Coisa de criança, igual essa do Eduardo, evidenciando a farsa desse imaginário revolucionário de araque.

O emergente

Durante o emergente é difícil pensar no longo prazo, tal o clima de guerra como esse em que vivemos em todos os níveis de governo com a população condenada a isolar-se na quarentena, cujo final não é imaginado. Quando os hospitais se veem obrigados a suspender as cirurgias chamadas eletivas em nome da prioridade do emergencial é difícil conceber o termo dessa provação. E agora há quem esteja pensando até no adiamento das eleições municipais, cogitação que o ministro Luis Roberto Barroso, que presidirá o Tribunal Superior Eleitoral, considera precipitada. Aliás, manter calendários (será que abrangerá os Jogos Olímpicos?) é uma prova de esperança e de fé no sentido do retorno à normalidade.

Que está ruim para fazer a cabeça política raciocinar nem se discute. O sentido do coletivo, tão raro nas nossas experiências, obriga.

Redundância

Cúmulo da redundância é no meio da quarentena ficar vendo filmes de Antonioni que tratam da solidão e da angústia da incomunicabilidade.

Urgência

Temos em ação a telemedicina, a sessão remota do Senado com o pessoal votando à distância a decretação da calamidade pública, Conselho Nacional de Justiça suspendendo prazo e em regime de plantão até 30 de abril. Na fixação da data novamente a esperança de que isso vai passar. Sairemos do sonambulismo para o sonho e o despertar.

Folclore

Agora a sabedoria aguda da pergunta de Garrincha: "quem vai combinar com os russos?"