No carnaval não apenas as pessoas, mas também a cidade se traveste. E é o que acontece com o Setor Histórico da capital, submetido em três dias sucessivos à violência. Ora aquela área é um dos feitos do lernerismo com seu casario hibernado, todavia tende a transformar-se num "cracódromo", o que certamente jamais foi visado nas pranchetas de arquiteto, uma visão enrustida, mimética e que pode caracterizar-se como polo policial, o que se é possível não é também desejável. O pré carnaval, que desmontou os arquétipos de que a cidade o rejeitava, encontrou ali o seu cenário mais frequente, para reafirmar que festa popular nem sempre pode estar no mesmo espaço das procissões e dos desfiles escolares.

Pois bem: os feitos das intervenções urbanísticas foram decantados em escala mundial e agora ansiamos para que se evite a deformação já instalada como ato de engenharia e civilidade.

O mano

Na semana meu irmão mais novo, Carlos Fernando, Mazzinha, apareceu num documentário cinematográfico que analisa sua atuação como animador cultural e ainda ontem no jornal da Globo ao meio-dia, como um dos elos entre futebol e escolas de samba. Diante do filme e da entrevista só me ocorre uma questão intelectualizada: o mano é apolíneo ou dionisíaco?

Momo político

Mais no Rio do que em São Paulo tivemos politização como a da Mangueira com críticas ao clima reinante de intolerância mostrando um Jesus com rosto negro, sangue índio e corpo de mulher e uma referência sutil a Bolsonaro como "Messias de arma na mão". Essa é uma tradição que esteve presente mesmo em carnavais dos anos de chumbo. Na raiz disso tudo a referência a Artur Bernardes/Washington Luis e, no passado mais distante, a Pinheiro Chagas e o bloco da chaleira como tivemos o cordão dos puxa-sacos: "Lá vem o cordão dos puxa-sacos// dando vivas a seus maiorais// Quem vai na frente vai ficando para trás// e o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais//". E tem aquela governista que marcou a volta de Getúlio depois do exílio: "Bota o retrato do velho outra vez// bota no mesmo lugar// o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar".

O dissenso

Um dos muitos dissensos – o genérico é voltado para o nível de convivência política e aceitação das diferenças -, o governo atual é contra a política externa de ajuste aos organismos multilaterais e seu assessor (lembram que o Lula também tinha um, cosmopolita, quase um Olavo de Carvalho, também sem laura acadêmica?) Filipe Martins, nas redes sociais de Eduardo Bolsonaro, diz que o Itamaraty operava como escritório avançado da ONU. E hoje certamente para convalidar Trump, o que também rompe a tradição, e é humilhante.

Cidadanias

Um setor mais crítico de deputados pretende estabelecer critérios contra a banalização de homenagens de cunho ideológico tal qual a que se pretende a Luciano Hang, da Havan. O problema é que a maioria não está nem aí para brecar a tendência.

Folclore

O deputado federal Hermes Macedo, dono da maior rede de varejo latina, tinha um olho puxado e um dia foi visitar o governador interino Guataçara Borba Carneiro, que também contava com um desvio no olhar. Aí o crítico anotou: não sei do que trataram, mas é certo que trocaram olhares significativos. Essa é do gênero politicamente incorreto.