Mudar uma cultura de violência: maior das inovações
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 03 de abril de 2023
Lucas V. de Araujo
A mudança exige tempo, dedicação, resiliência. Quanto mais importante ela é, maior deve ser a dedicação. Quem está disposto a sair do lugar comum, portanto, precisa estar preparado para lutar até o fim. Pode parecer trecho de livro motivacional estas palavras, mas é incrível como elas guardam uma grande verdade se pensarmos em termos de inovação e empreendedorismo.
Inovar comprando máquinas para aumentar o lucro é banal, fácil até, mas vai tentar inovar no setor público. Ou ainda mais difícil, tente inovar culturalmente, fazendo as pessoas mudarem sua forma de agir pelo bem comum, pelos outros. Isso é tarefa para quem põe em prática aquilo que escrevi logo no começo.
Tive a alegria de participar do lançamento da Procuradoria da Mulher na Câmara de Vereadores de Mandaguari. Um fato histórico para uma cidade de quase 40 mil habitantes que, assim como qualquer outra em nosso país, carece de maior atenção às inúmeras formas de violência vividas pelas mulheres cotidianamente. Mais que resolver problemas, a Procuradoria vai acolher as pessoas que se sentirem vítimas de violência. É o lado humano prevalecendo sobre os aspectos jurídicos.
Como se trata de uma instância dentro de um órgão legislativo, cuja atribuição é criar leis e demais formas de proteção às pessoas, pode parecer um certo contrassenso eu defender o lado humano acima das questões legais. Não é porque a violência provém de humanos, na grande maioria das vezes homens, que fazem o mal pelas mais variadas razões, mas sempre a partir de uma vontade. Isto é, se quisermos diminuir os casos de violência contra a mulher, será preciso mudar a forma de pensar e agir das pessoas. Claro que leis rígidas são fundamentais para coibir os atos nefastos contra o público feminino, mas a norma não trabalha na origem do problema: o pensar.
Que viagem!, diria meu leitor mais cartesiano. Não é bem assim, digo eu. Por mais filosófica que possa parecer essa minha reflexão ela chega onde comecei: se quisermos a mudança, se prepare para a luta!
A nova procuradora da mulher, a vereadora Claudete Velasco, tem pela frente a difícil missão de criar uma cultura não só das vítimas procurarem a Casa de Leis para denunciar a violência, como também de legitimar as ações do legislativo municipal face aos outros órgãos de proteção, como Delegacia da Mulher, Polícia Militar, Centro de Referência da Assistência Social (Cras), os quais vão buscar dar andamento às denúncias recebidas na Câmara. Também será preciso lidar com problemas comuns em um país como o nosso: falta de infraestrutura, reduzidos recursos públicos, estímulos contrários, como o longo caminho que os processos tomam na justiça, dentre outras situações adversas.
A tarefa mais difícil, porém, é a de longo prazo, que não se revolve com uma pessoa, nem um único órgão, tampouco em determinada cidade: mudar a forma de agir e pensar das pessoas.
A Procuradoria inova ao trazer um serviço para ajudar mulheres vítimas de violência onde não existe atualmente. Inova ao mudar um contexto de poucos recursos. O caminho da mudança, porém, está apenas começando ;)
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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina
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