Há um modismo atual de chamar tudo que há de moderno de “alguma coisa ponto zero”. Por exemplo, indústria 5.0, internet 3.0, agricultura 4.0.

Imagem ilustrativa da imagem Modismos de inovação: use com moderação (quase nunca!)
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Esses termos foram emprestados da área de computadores que denominam as diversas versões de um software a partir de um número. A regra diz: “os números das versões são geralmente divididos em conjuntos de números separados por casas decimais. Normalmente, uma alteração no número mais à esquerda indica uma alteração importante no software ou driver. Alterações no número mais à direita normalmente indicam uma pequena alteração. Mudanças em outros números representam vários graus de mudanças”. Esta regra, no entanto, não é seguida por muitos desenvolvedores, daí a razão para a falta de padronização que existe no mercado de software.

O mesmo problema ocorre hoje quando tratamos de graus de inovação. Acreditamos que tudo o que zero ponto alguma coisa é moderno e inovador. E o pior, se não aderirmos à agricultura 4.0, por exemplo, estamos por fora das mudanças. Grande engano.

Primeiro porque os princípios teóricos da inovação, assentados nas reflexões, pesquisas e dados coletados ao longo de séculos de trabalho, não classificam graus de inovação a partir de números. Não há inovação, 1.0, 2.0 e assim por diante, mas existe inovação incremental, radical e disruptiva. Há também tipos de inovação, como de produto, processo e serviço. Outro conceito teórico relevante diz respeito às fontes de inovação. Daí o motivo pelo qual falamos em inovação aberta ou fechada.

Segundo porque como todo modismo, chamar supostas diferenças entre as inovações a partir de números não dá conta da complexidade que existe neste universo de mudanças que as propostas inovadoras embutem. O modismo é apenas um jeito mais simples de falar sobre coisas que não são necessariamente fáceis de entender. É muito mais rápido, por exemplo, dizer “Agricultura 4.0” do que explicar que as técnicas mais modernas no campo utilizam-se de tecnologias conectadas, tais como drones e máquinas autônomas, que trocam informações entre si e com outros dispositivos para otimizar os recursos e maximizar os benefícios.

Então, Lucas, questiona meu caro leitor, a gente não deve simplificar as coisas? Claro que deve!, digo eu. Não há nenhum problema nisso. Só não podemos ficar reféns desses modismos achando que eles bastam para entender assuntos mais complexos que envolvem o mundo da inovação. Sobretudo se você é um profissional que necessita de ideias novas no seu cotidiano, faz parte de uma empresa que depende da inovação para sobreviver no mercado competitivo de hoje ou ainda é um empreendedor interessado em saber como fazer as coisas corretamente. Como acredito que você se encaixa em uma dessas realidades, precisa saber lidar com tudo isso.

Para ajudá-los nesta tarefa, amigo leitor, prometo trazer sempre discussões interessantes, informação relevante a análises apuradas sobre inovação).

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.