Financiamento do jornalismo profissional não é assunto que interessa apenas aos jornalistas. Pelo contrário, todos nós precisamos estar conscientes e, se possível, opinarmos em relação ao assunto. Por isso este assunto está em debate no Congresso Nacional.

Defendi nesta coluna que a proposta das grandes empresas de mídia de possibilitar uma negociação direta entre elas e as grandes firmas de internet não é bom porque alija jornalistas do debate e desfavorece as empresas jornalísticas menores. Sem contar que mantém a informação centralizada.

Como o Governo Federal está preocupado em frear o crescimento desenfreado da desinformação e das notícias falsas, que prejudicam demasiadamente a sociedade, e ao mesmo, democratizar a informação, possibilitando o fortalecimentos de entidades representativas de minorias e de mídia independente, acredito que o debate não será rápido e tampouco tranquilo. O lobby das grandes empresas de mídia é muito forte.

Outro fator que pesa contra a proposta de criação do fundo é o interesse ardiloso das grandes empresas de tecnologia de manter a informação sob o controle de poucas empresas. Google e Facebook (Meta) sabem que o financiamento do jornalismo profissional é o mecanismo mais genuíno de criar meios fortes e eficazes de combater as notícias falsas e democratizar cada vez mais o acesso à informação de qualidade.

A relação que as empresas de tecnologia têm com as notícias falsas é de amor e ódio. Possivelmente nunca ninguém te falou isso, mas as notícias falsas são boas para as empresas de internet porque geram engajamento, logo, faturamento por meio de anúncios. A indústria da propaganda na internet vive disso: anúncios, os quais dependem de engajamento. Por isso, elas não aceitam a ideia de serem responsáveis por aquilo que veiculam, alegando que seria censura e cerceamento da liberdade de expressão. Balela. Os algoritmos poderiam melhorar muito a seleção e o filtro desses conteúdos, mas assim o burburinho seria menor e o engajamento também. Entenderam agora por que o Elon Musk, conhecido pelo perfil negacionista e de opiniões controversas, comprou o Twitter? Ou por qual razão o Twitter afrouxou a moderação de conteúdo, sendo conivente e defendendo até com perfis nefastos que defendem assassinos de crianças em escolas?

Muito se fala de que é preciso educar as pessoas para o consumo de informação pela internet. Sem dúvida, importantíssimo. Porém, as empresas de tecnologia não podem continuar lucrando bilhões de dólares simplesmente se eximindo da responsabilidade dos absurdos que criminosos e lunáticos postam nas plataformas.

Grandes empresas de mídia, como o Grupo Globo, preferem ignorar esses fatores ao defenderem seus interesses, os quais vão ao encontro do que preconizam as empresas de tecnologia. Ambas preferem se unir para terem um controle maior da informação em detrimento do jornalismo independente e mais inclusivo, o que pode ser deveras valioso contra o discurso de ódio, desinformação e notícias falsas.

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.

* A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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