Com frequência venho tratando de dois assuntos de grande relevância aqui: inovação e campo. Não gosto de usar o termo agronegócio porque dá-se a impressão de que tudo é negócio quando tratamos de agricultura e pecuária. Penso que nem sempre é. Quando falamos de extensão rural, por exemplo, estamos tratando de pessoas, famílias, educação.

Tive uma entrevista reveladora recentemente com um argentino que adotou o Brasil como sua casa há sete anos. Ele já havia morado no estado de São Paulo, mas há seis anos mudou-se para Londrina e aqui decidiu empreender. Matias Santipolo é diretor Gaia Agrosolution, uma startup dedicada a registro de produtos em órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, e também a desenvolver novas tecnologias. Para isso utiliza-se de parcerias, como a que realiza com a Bio3, startup de bioinsumos, que já tratei aqui nesta coluna, além de outras firmas nascentes, como a Grace Breeding de Israel, em processo de chegada em nosso país, cuja atuação ainda vamos tratar neste espaço.

Matias tem uma visão peculiar sobre o Brasil, o agro e, principalmente, sobre as tendências que do setor agropecuário. Primeiro que ele acredita muito na conexão entre universidades e empresas como forma de desenvolver tecnologia. Um aspecto imprescindível para gerar inovação radical e disruptiva, porém pouco atuante no nosso país, onde aspectos culturais e ideológicos dificultam essa aproximação.

O argentino que adotou Londrina como sua casa também já identificou mudanças na estruturação da cadeia de suprimentos do agro. A compra ou incorporação de grandes distribuidores pelos maiores players do mercado internacional mostram um movimento de verticalização que está mexendo com a forma como o produtor rural têm acesso aos insumos básicos para produzir, tais como sementes, fertilizantes e agroquímicos.

Neste movimento, a indústria está se tornando a fornecedora direta dos produtos, o que aparentemente poderia ser visto como positivo, pois se elimina um intermediário supostamente para reduzir preços. Porém, como bem destacou Matias, é provável que a mudança repercuta em menor variedade de produtos, preços direcionados e dependência excessiva de determinada empresa fornecedora. Sem contar que ficaria muito mais difícil para uma startup, como a Gaia e parceiros, entrar em um mercado completamente dominado por multinacionais.

Matias Santipolo e Lucas Araújo
Matias Santipolo e Lucas Araújo | Foto: Lucas Araújo

Matias acredita no potencial da Gaia e dos parceiros porque trazem produtos altamente inovadores, notadamente sustentáveis, que não é feito em larga escala, mas possibilita ganhos de produtividade e econômicos que compensam a produção reduzida.

Eu poderia argumentar sobre o ponto de vista técnico da Teoria Geral da Inovação o quanto Matias está certo em sua visão, assim como o grande potencial da Gaia. Porém, mais importante é ficar atento às ponderações dele em uma região, um estado e um país altamente dependentes do agro e da sua cadeia de suprimentos ;)

Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP).

Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups.

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