O preconceito e o obscurantismo ainda são muito presentes na sociedade atualmente. O forte negacionismo em torno de temas sensíveis e recentes, como os questionamentos em torno da eficácia e até da pertinência da vacina para Covid-19, mostram que a ciência precisa avançar.

Recentemente o Poder Legislativo de Mandaguari deu um bom exemplo de como se deve lidar com temas assim. Foi aprovado um projeto de lei, de autoria do vereador Sidney da Silva – Chiquinho (PSD), que possibilita o acesso a medicamentos à base de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabidiol (THC), substâncias usadas no tratamento de doenças, síndromes e transtornos de saúde como o autismo.

Pioneira no sul do Brasil, a legislação facilita o acesso da população por meio do SUS a medicamentos inovadores, de eficácia científica amplamente comprovada, fundamentais no tratamento de doenças cada vez mais recorrentes no Brasil e no mundo, como Alzheimer, e transtornos como o autismo.

A controvérsia reside no canabidiol, substância química encontrada na cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha. Malgrado haver um hiato enorme entre uso medicinal, prescrito por profissional devidamente credenciado, e apologia ao uso de entorpecentes ilícitos, paira uma grande desconfiança em torno do uso de medicamentos à base de CBD e THC, sobretudo em crianças.

A ausência de arcabouço jurídico também deixa as questões ainda mais difíceis, já que muitas pessoas têm acesso ao medicamento por meio de decisões judiciais. Contudo, o maior problema continua sendo de ordem cultural. Autoridades públicas ainda relutam em aderir a essa inovação, apesar dos apelos e relatos de famílias ávidas pelo medicamento.

É grande a ansiedade em Mandaguari para que pais e tutores tenham acesso aos medicamentos de forma gratuita e simples pelo SUS. A alta eficácia do medicamento à base de CBD e THC, a dificuldade do acesso a eles, o elevado custo na rede privada, aliado ao aumento significativo de enfermidades, como o Alzheimer, e transtornos, como o autismo, tornam a espera angustiante para quem convive com essas situações diariamente.

Também é notável o esforço e a pressa de legisladores pelo Paraná e o Brasil querendo implantar em suas cidades e estados leis que também assegurem o benefício em prol da população. Só na região de Mandaguari, diversas cidades como Jandaia do Sul e Marialva, já aprovaram ou estão em vias de aprovar projetos de lei semelhantes. Advogados, vereadores, pais e outras lideranças de Londrina, Maringá, Rolândia e Apucarana também já foram em busca de mais informações do projeto de lei mandaguariense.

Para quem tem um familiar com autismo em grau médio ou severo, o medicamento à base de CBD ou THC é a última esperança de trazer alívio no tratamento, primordialmente de crianças. Para Pedro Henrique, menino autista de 10 anos falecido ano passado em Mandaguari e que dá nome a lei aprovada na cidade, a espera foi longa demais.

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*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP). Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups. @professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)