Na segunda parte da entrevista com a deputada estadual Luciana Rafagnin (PT), líder do Bloco Parlamentar da Agricultura Familiar na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), ela traz bons exemplos de inovação na agricultura familiar:

Inovação depende, dentre outros, de mentoria, algo que na agricultura familiar é feito geralmente pelo extensionista rural, profissional cada vez mais requisitado, mas que muitas vezes não dá conta da demanda cada vez mais elevada. De que forma a senhora vem atuando no sentido de possibilitar que o pequeno agricultor tenha acesso às novas tecnologias?

Pela defesa constante de políticas públicas de valorização da agricultura familiar e batendo na tecla de que precisamos ampliar a dotação orçamentária da SEAB para poder investir em ampliar a ATER. Seja pela contratação de profissionais para o quadro do IDR, mas para estimular parcerias com as universidades das diversas regiões – como acontece com o projeto da UMIPTT no Sudoeste ou em pesquisas junto à UTFPR e Unioeste, entre outras – e com a própria Embrapa, com entidades e cooperativas do setor, via também as iniciativas e os consórcios regionais. Há inúmeras possibilidades de expandir as ações, se tivermos recursos rubricados no orçamento e compromisso na execução e priorização dessas ações pelo governo.

A inovação social ainda engatinha no Brasil e no Paraná. Quando se traça um paralelo com o campo, o cenário é o mesmo, pois são poucas as iniciativas que já trouxeram resultados concretos, a exemplo da Amucafé, apoiada pelo IDR Paraná. Como é possível alavancar esse tipo de empreendimento social no campo?

Você tem razão. No mundo empresarial, por exemplo, as próprias práticas de ESG, de governança ambiental, social e corporativa, são uma necessidade, mas pouco implementadas na prática. No campo, o passo é ainda mais lento e a distância é ainda maior, quando olhamos para as relações de trabalho e as condições socioeconômicas dos trabalhadores e trabalhadoras das grandes corporações agroindustriais.

Daí, novamente, nossa defesa permanente das ações cooperativistas e das relações solidárias estabelecidas no meio da agricultura familiar e por suas entidades representativas. Desde as associações e cooperativas de produção, às de comercialização e de crédito solidário, que tem por natureza a razão de ser de promover esse conceito de inovação social, de respeito à natureza, proteção de fontes, de matas ciliares, de preservação dos saberes, da cultura, das sementes.

Olhe para o exemplo da Cresol, da Assesoar há mais de 50 anos, das cooperativas de comercialização do MST, do impacto do programa de habitação rural, em parceria com as cooperativas de habitação da agricultura familiar, da parceria na merenda escolar com as cooperativas de alimentos orgânicos, das iniciativas e fomento ao turismo rural e do modo de vida no campo. Seja prestando serviços-meio ou ofertando produtos diferenciados, que chegam até mercados mais exigentes pela exportação, como a Amucafé faz, a gente colhe resultados que só confirmam a necessidade de priorizar, investir e apoiar a agricultura familiar.

*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP).

Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups.

@professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)