Muito se fala atualmente sobre o fomento à inovação e ao empreendedorismo, sobretudo aos jovens. Muito já se caminhou nesta direção, contudo não podemos acreditar que a missão está cumprida.

Imagem ilustrativa da imagem Fomento ao empreendedorismo com jovens: longo caminho a percorrer
| Foto: LebenLOG/Divulgação

Apenas no ensino superior já dou aulas há duas décadas. É um bom tempo, maior que a idade de muitos dos meus alunos. No entanto, sempre que preciso indicar um estudante que se formou há pouco tempo, tenho certa dificuldade. Seja porque o egresso não tem o perfil ou ainda por falta de afinidade com a área, com frequência boas oportunidades de trabalho não são preenchidas.

Quando se trata de egressos com vivência em inovação e empreendedorismo, por incrível que pareça, fica ainda mais difícil. Muita gente pensa que os universitários já pensam em empreender desde quando entram no ensino superior. Quem dera.... A maioria dos alunos chega ao último ano de formação pensando em conseguir um emprego, quando não estão desanimados e desestimulados com o futuro.

Luiza Munhoz formou-se há pouco tempo em Medicina Veterinária na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Como brinquei com ela, por pouco não foi minha aluna..rsrs. Juntamente com outros dois amigos, um veterinário e outro engenheiro mecânico, Luiza criou a LebenLOG, startup que alia logística a bem-estar animal. A principal solução deles chama-se Transpork, cujo propósito é informar as empresas de transporte das condições dos suínos durante a viagem até o frigorífico.

Além de atender uma normativa do Ministério da Agricultura, o sistema criado pela LebenLOG é fundamental para reduzir prejuízos. Pesquisas da UEL mostraram que o prejuízo econômico em um frigorífico de porte médio pode chegar a R$ 1,3 milhão ao ano apenas com animais mortos durante o transporte e R$ 5,8 milhões ao ano com perda na qualidade da carne. Luiza chama atenção para o fato de que os suínos são muito sensíveis ao estresse, sobretudo no caminhão.

A ideia de empreender surgiu quando os estudantes realizaram uma disciplina de empreendedorismo e a professora os convidou a participar de um evento. Com muitas dúvidas, mas curiosos para conhecer oportunidades, eles tomaram gosto e ao se formarem criaram a startup. A empresa está sediada em Toledo, no Oeste do Paraná, maior produtora brasileira de proteína suína.

O exemplo da LebenLOG me fez refletir sobre a enorme responsabilidade que nós, professores, temos no fomento à inovação e ao empreendedorismo, assim como as instituições de ensino. Se não criarmos políticas consistentes e duradouras voltadas a esse tema, estaremos sujeitos a um cenário de jovens desestimulados, falta de mão de obra em alguns setores e excesso de contingência em outros, além de poucas startups de destaque.

Empreender pode e deve ser a primeira opção para a maioria dos jovens. Só assim podemos melhorar a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho e ainda gerar emprego e renda em benefício da sociedade.

Obrigado Luiza e seus sócios por acreditarem na força da inovação e do empreendedorismo. O Paraná e o Brasil precisam de vocês ;)

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área. A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina