Análise de concorrência e de potencial de mercado é fator-chave ao se avaliar as perspectivas de futuro para uma startup. São aspectos onipresentes em qualquer banca de seleção de fundos de investimento, aceleradoras ou investidores.

Imagem ilustrativa da imagem Escalabilidade e crescimento acelerado nem sempre medem a inovação
| Foto: Biolyse/Divulgação

Se o investidor diz que não há concorrentes ou que o mercado é “infinito”, os mais experimentes já ficam ressabiados. Foi um erro que cometi quando empreendi pela segunda vez, nos idos de 2011.

Quando conversei com os empreendedores Bruna Guide e Thiago Fernandes fiquei pensativo quando eles me falaram do potencial da startup que eles criaram, Biolyse, que realiza controle biológico em lavoura de soja por meio da criação de uma vespa que parasita ovos do percevejo marrom, principal praga da leguminosa. “O controle biológico não tem grandes concorrentes porque a demanda está muito acima da produção das empresas do setor no Brasil. Juntando todas não atendem 5% da demanda”.

Eles explicaram que sendo o Brasil o maior produtor mundial de soja e tendo em vista uma série de peculiaridades na produção em massa de parasitoides, o esforço da Biolyse gira muito mais em torno da qualidade nas entregas, do que na escalabilidade do negócio ou do crescimento orgânico da empresa. “Quando se trata de uma tecnologia baseada em organismos vivos há muitas incertezas e riscos para o cliente, no caso o produtor rural. Às vezes, os resultados alcançados no campo ficam muito aquém do prometido, o que evitamos ao máximo acontecer”.

Fiquei pensando nisso face à corrida que vivemos no Brasil e no mundo em torno da criação de startups de sucesso. Alta escalabilidade e crescimento acentuado do negócio são critérios elementares por mentores e investidores. Não por acaso, a Biolyse vem crescendo por meio do investimento do casal fundador da firma Thiago Fernandes e Bruna Guide e da entrada de novos sócios, também uma dupla de pesquisadores. Embora inovação para o agronegócio seja um dos mercadores mais promissores do Brasil, a Biolyse não tem investidores externos.

Replicar a inovação rapidamente para outros mercados reduzindo custos e maximizando os lucros é o sonho de qualquer empreendedor e dos seus investidores. Porém, a vida não respeita os critérios do mercado. Quando se trata de sistemas vivos usados como mecanismo de inovação, o tempo e o risco fatalmente são maiores que aqueles estipulados pelos critérios essencialmente mercadológicos. Por essa razão, as inovações que venho apresentando aqui baseadas em tecnologias sustentáveis foram criadas após anos de pesquisa acadêmica, cercada de erros, acertos e infortúnios, como cortes sucessivos em investimento público e privado em ciência e tecnologia.

Inovação sem pesquisa científica tende a ser cópia do que já existe, logo com chances menores de êxito. Inovação sustentável é ainda mais difícil, pois exige métodos que extrapolam os critérios usualmente utilizados na avaliação de empresas de sucesso. Se queremos, de fato, um mundo melhor, precisamos também repensar como avaliamos as startups com tecnologias de respeito à vida).

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina