Londrina ganhará em breve um hub de inovação para alavancar o desenvolvimento de novas ideias na região Norte do Paraná, o Tecnocentro. Proposta mais que necessária e muito bem-vinda em um momento que a cidade se destaca na geração de empregos na área de tecnologia. Apenas neste mês de junho a previsão é de mil novas vagas apenas na maior empresa de Tecnologia da Informação e da Comunicação (T.I.C) instalada por aqui, segundo Bruno Ubiratan, diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Londrina (Codel).

Imagem ilustrativa da imagem Café, pessoas e Tecnocentro: ingredientes para a inovação
| Foto: Vivian Honorato/N.Com

Tecnologia é uma palavra onipresente atualmente. A pandemia é responsável em parte por isso porque acelerou a necessidade automatização em qualquer tipo de organização. Se engana, todavia, quem acredita que T.I.C é sinônimo de tecnologia. Na minha tese de doutorado discorri dezenas de páginas para evidenciar teoricamente as diferenças entre ambas. Não farei o mesmo, mas adianto que profissionais de ciências humanas também podem fazê-la. Quem disse isso? Um deles é o físico e filósofo argentino Mario Augusto Bunge.

Destarte, é a característica interdisciplinar da tecnologia que a torna tão instigante e desafiadora. Quando um engenheiro cria uma tecnologia é diferente de quanto este mesmo engenheiro aliou-se a um biólogo, o que, por sua vez, é totalmente distinto de quando um designer aliou-se aos demais. Cada um tem uma visão diferente e um conjunto distinto de habilidades e competências. É dessa diversidade, que nascem as melhores inovações.

Esta é uma das razões pelas quais o Tecnocentro é tão importante e necessário. Notadamente pela capacidade de reunir pessoas com perfis diferentes imbuídas do mesmo propósito: gerar inovação. Matéria-prima fundamental desses hubs é o compartilhamento de conhecimento, a troca de ideias, a presença de startups e grandes empresas.

Forjado com o apoio da sociedade civil organizada a partir da experiência bem-sucedida da Fundação Certi, de Santa Catarina, o Tecnocentro deve fomentar o crescimento de todo o ecossistema porque unirá diversas “pontas”, ou hélices, lembrando do Modelo Triplo Hélice que tratamos aqui na coluna. Mais que um espaço para oferta e procura por vagas de emprego, a ideia é que o local conecte pessoas e instituições na busca por soluções inovadoras.

O norte-americano Steven Johnson acredita que as melhores ideias vêm em forma de “palpite parcial”, algo inacabado que precisa de um tempo de incubação e choque com outras ideias para tornarem-se mais claras e completas. Para Johnson os cafés no Iluminismo e os salões parisienses no Modernismo foram “motores de criatividade” porque possibilitaram a colisão e a recombinação de ideias.

Quem sabe o Tecnocentro não assuma papel semelhante na região Norte do Paraná ao abrigar pessoas com características diferentes de instituições distintas? O propósito inicial certamente não é serem criados movimentos filosóficos/artísticos de nível mundial como o Iluminismo e o Modernismo, mas a inovação, assim como a criatividade, não tem hora e local definidos para surgirem. É preciso dar condições para que elas fluam. Como Londrina já foi a capital mundial do café, o ingrediente mais importante para o Tecnocentro nós já temos.

*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina